É a pergunta que fazemos da mesma forma que há alguns anos escritores e estudiosos da literatura do Clube da Madrugada e da União Brasileira de Escritores do Amazonas fizeram com esta pergunta: – Existe uma Literatura Amazonense? Com esta indagação que é também o título de um ensaio escrito e reunido em um livro por Jorge Tufic e lançado pela UBE-AM, como VII volume da Coleção Norte-Nordeste de Literatura, fruto do I Encontro Norte-Nordeste de Literatura, onde se discutiu amiúde o tema.
Os estudos levantados por Jorge Tufic concluíram que existe uma Literatura Amazonense e se há, há também uma literatura regional, mesmo que ela tenha em alguns aspectos conotações de modo similares a outras regiões que nos ligam a Literatura Universal.
Eu mesmo cheguei a admitir, aí mesmo, neste trabalho de Jorge Tufic, a sua existência, a partir da existência de uma literatura latino-americana no contexto das nossas letras, que marcaram e continuam marcando, mesmo com suas particularidades regionais, a literatura nacional e, consequentemente, a literatura universal.
Muitos escritores amazonenses são oriundos da hinterlândia amazônica, como Álvaro Maia, Jorge Tufic, Francisco Vasconcelos, Almir Diniz, Erasmo Linhares, Elson Farias, Tenreiro Aranha, Aureo Mello, Thiago de Mello, Almino Afonso, Anísio Mello, Tenório Telles, Pe. Manuel Albuquerque, Alencar e Silva, Raimundo Colares, entre outros que poderíamos enumerar apenas para mostrar que a literatura pode florescer em qualquer meio ambiente, tanto no meio urbano das grandes metrópoles, como também nas concentrações urbanas e suburbanas das cidades do interior, vilas e lugarejos onde a civilização tenha chegado.
Assim, acontece no mundo inteiro. Por que aqui não poderia acontecer também?
A inspiração artístico-cultural surge em qualquer lugar e em qualquer tempo. Pode aparecer em tempo de grande florescimento econômico, como pode surgir em tempo de crise econômica e social. A literatura é produto da natureza humana e suas circunstâncias e, assim, não depende de mais nada. Quantos em meio à guerra e à miséria escreverem livros, como Tolstói em “Guerra e Paz”, e Dostoiévski, em “Crime e Castigo”, por exemplo, e mesmo o nosso Graciliano Ramos, com “Vidas secas” e “Memórias do cárcere”, que escreveram, todos eles, contando experiências em livros que hoje estão entre os mais lidos. Também, quanto ao tema, e mesmo se destinando a um público infanto-juvenil, ou mesmo a leitor mais exigente, que goste de ficção, romance, por exemplo, ou apenas poesia, crônica, ensaio, história de caboclo ou conto, não importa o gênero literário, desde que o que escreve seja um texto bom, cabível em qualquer lugar e ao alcance de qualquer leitor.
Temos uma literatura coariense, é só ver nomes que Archipo Góes e Daniel Almeida reuniram neste livro de literatura em prosa e verso, enfeixando nomes de expressão como Francisco Vasconcelos, Erasmo Linhares, Roberval Vieira, Pe. Francisco José, Manoel Francisco, José Maciel e outros. Alguns, como Francisco Vasconcelos e Erasmo Linhares, dois ícones de nossa literatura, já transpuseram as fronteiras do Estado do Amazonas!
Um dos organizadores do livro, Archipo Góes, é escritor e poeta, tendo publicado “Recomeçar” (poesia), “A Origem do Nome Coari”, 1º volume, e “Samuel Fritz e a Fundação de Coari”, pertencentes à Coleção de História de Coari, publicados em 2014, e “Uma Literatura Coariense – Poemas”, editado em 2014. Archipo Góes, professor e escritor e o jovem Daniel Almeida, recém-formado em Licenciatura Plena em Letras pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e comunicador apaixonado, são estudiosos da nossa cultura, dos costumes, do folclore e da história da nossa terra.
Parabéns, portanto, por levantarem essa bandeira da cultura em Coari, berço de todos nós!
José Coelho Maciel
(Da Associação dos Escritores do Amazonas – ASSEAM)
Apresentação do livro: Uma Literatura Coariense – Archipo Góes e Daniel Almeida