Do Ouro Vermelho ao Ouro Negro: o crescimento econômico de Coary – Parte 01

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Archipo Góes

O artigo trata do crescimento econômico contínuo de Coari, desde a época da colonização até a exploração da castanha-do-pará.

1. O Ouro Vermelho: a exploração da mão-de-obra indígena e a coleta das drogas do sertão.

Economia

No primeiro momento da formação do povo coariense, os indígenas amazônicos eram literalmente escravos, tanto no período do Sistema de Capitães de Aldeia como no Regimento das Missões.

Em 1703, a formação da aldeia de Coari, aconteceu através do processo recrutamento chamado “Descimento[1]” onde os missionários carmelitas levaram as nações dos Jurimáguas, Catauixis, Jumas, Irijus, Uaupés, Cuchivaras para forma uma missão no centro do lago de Coari.

Nessa missão de Coari havia, na central da aldeia, uma igreja católica cercada de casas indígenas, em que a administração do povoado ficava sob a direção do padre missionário. E na parte posterior da aldeia havia as plantações de algodão, tabaco, cana-de-açúcar e o extrativismo das drogas do sertão como: cravo, canela, salsaparrilha, urucu, plantas medicinais, manteiga de tartaruga, cacau e a copaíba que eram enviadas para a Portugal para a manutenção da ordem religiosa.

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[1] Os descimentos eram feitos através do convencimento dos indígenas para saírem de suas aldeias por livre e espontânea vontade. Os padres, para conseguirem tal objetivo, faziam inúmeras promessas de melhorias nas condições de vida, caso fossem viver nos aldeamentos, e quando isso não funcionava, usavam a coação, obrigando-os, através do medo, a aceitarem a convivência indesejada nos aldeamentos.

Essas ações eram realizadas persuadindo os indígenas a deixarem suas aldeias espontaneamente. Para isso, os padres prometiam melhores condições de vida se forem morar na aldeia missionária e, quando isso não funciona, usam a coerção, forçando-os pelo medo a aceitarem a convivência indesejada nos aldeamentos de descimentos.

Após o descimento os indígenas eram armazenados em “aldeias de repartições”, pois eram considerados “livres”, para daí serem alugados e distribuídos entre os colonos, demais missionários e o serviço da corte.

2. Migrantes Nordestinos

A chamada “Grande Seca” do século XIX que aconteceu no Nordeste brasileiro teve influência na economia coariense. Ela ocorreu entre 1877 e 1879, atingindo as províncias de Alagoas ao Piauí e teve um grande impacto social, político e econômico na região. Calcula-se que aconteceu 500 mil mortes nesses 3 anos.

As Causas

Além da fome e da sede, da intoxicação pela ingestão de alimentos estragados, a medicina da época ainda não conhecia os micro-organismos, dessa forma, uma série de epidemias e doenças dizimaram uma boa parte da população pobre. A epidemia de varíola foi a responsável por dizimar cerca de um terço dos mortos.

A seca de 1877-1879 ficou famosa e foi particularmente catastrófica por alguns motivos históricos específicos. Mesmo tendo feito parte de uma série de catástrofes climáticas que se abateu sobre todo o hemisfério sul provocadas pelo fenômeno do El Niño (desconhecido na época), ela se deu após um período de cerca de trinta anos sem que o fenômeno ocorresse.

A falta de chuvas levou à morte de milhares de pessoas e animais, além de provocar a migração em massa de sertanejos em busca de sobrevivência. O governo imperial, na época, criou medidas paliativas para tentar minimizar os efeitos da seca, como a construção de açudes e a distribuição de alimentos e sementes.

A Grande Seca foi um tema recorrente na literatura e na cultura popular nordestina, sendo retratada em obras como “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, e em músicas e cordéis. A seca também foi um tema de estudo para cientistas e intelectuais da época, que buscavam entender as causas do fenômeno e encontrar soluções para o problema.

A grande seca e a migração nordestina para o Amazonas

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Em meio à crise, muitos nordestinos viram no Amazonas uma oportunidade de recomeço. O estado, então pouco povoado e com um clima úmido e quente, parecia ser um refúgio para aqueles que fugiam da seca e da miséria. As primeiras levas de migrantes nordestinos chegaram ao Amazonas a partir de 1878. Eles eram, em sua maioria, agricultores, pescadores e artesãos que buscavam oportunidades de trabalho e de sobrevivência.

Os nordestinos que migraram para o Amazonas enfrentaram muitos desafios. O estado era ainda inexplorado e o acesso a ele era difícil. Além disso, os migrantes tinham que lidar com a hostilidade de alguns amazonenses, que os viam como invasores. Apesar dos desafios enfrentados pelos migrantes, seu legado cultural e contribuição para o desenvolvimento regional são aspectos importantes dessa história.

A chegada de grupo de cearenses à vila de Coari

Na viagem do Barão de Maracaju, presidente da província do Amazonas, ao rio Solimões, em 17 de janeiro de 1879, pode ser ter um quadro da recém criada Vila de Coary. Havia na comitiva um médico que fez muitos atendimentos na vila, contudo, o seu principal objetivo na viagem era atender a colônia dos emigrantes cearenses que ficava a poucos quilômetros da vila, pois os mesmos estavam com suspeita de varíola.

O médico realizou uma visita à colônia de cearenses, que então estava estabelecida a meia hora de viagem do porto da vila de Coari. Após os atendimentos, foi constado que havia 6 cearenses com sintomas de varíola, mas, estando 3 já em convalescença. Sendo todos eles examinados com atenção por aquele médico, que deixou as instruções precisas ao devido tratamento.

No fim da viagem, ficou reconhecido que a varíola manifestou -se em Coary e em Tefé, atacando unicamente os emigrantes cearenses. Nos demais povoados é muito elogioso o estado de salubridade, e os seus habitantes amedrontados em virtude das notícias exageradas de estar alastrando-se os casos de varíola naquelas vilas e cidades, perderam todo o receio com a vacina distribuída pelo mencionado médico da viagem.

Segundo o jornal “Amazonas” houve ainda no ano de 1879 a chegada de mais um lote de 100 cearenses para terras coayenses. No ano seguinte, chegou ainda mais 22 cearenses que vieram se juntar ao grande número que já viviam na colônia migrante ou na própria vila de Coary.

A migração nordestina para a vila de Coary deixou um legado cultural duradouro na região. Isso é evidente na música, na culinária e nas tradições locais, que foram enriquecidas pela influência nordestina. Além disso, a migração contribuiu para o crescimento e desenvolvimento econômico do Amazonas, aumentando a população e impulsionando setores como a agricultura, o extrativismo e a pesca.

3. O Comércio em Coari no século XIX

a. Jornal Amazonas – O comércio em Coary em 1878

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b. Jornal Amazonas – O comércio em Coary em 1879

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c. Jornal Amazonas – O comércio em Coary em 1881

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Nos quadros acima, é possível observar que, entre 1879 e 1891, a Vila de Coary já apresentava uma estrutura urbana em desenvolvimento, com a presença de algumas ruas e estabelecimentos comerciais. Dentre esses estabelecimentos, destacam-se as lojas ou tabernas, os regatões que comercializavam em suas canoas, os depósitos de lenha, funilarias, alfaiates e vendas de bebidas, entre outros.

4. O Primeiro Ciclo da Borracha em Coari

A borracha é um polímero elástico que é extraído da seringueira, uma árvore nativa da Amazônia. Ela é um material versátil que pode ser usado em uma ampla variedade de aplicações, como pneus, sapatos, roupas e brinquedos. A seringueira (Hevea Brasiliensis) é uma árvore de grande porte que pode atingir até 40 metros de altura.

A borracha desempenhou um papel crucial na história e economia do município de Coary. No final do século XIX, a demanda por borracha aumentou devido ao desenvolvimento da indústria do automóvel, brinquedos, instrumentos médicos, sapatos na Europa e nos Estados Unidos. A Amazônia era o único lugar do mundo onde a seringueira crescia naturalmente, o que deu ao Brasil uma vantagem competitiva no mercado mundial da borracha.

No livro “À Margem da História” de Euclides da Cunha, há a descrição da realidade da migração dos nordestinos, a principal mão de obra dos seringais, para a Amazônia. Ele retrata com traços tremendamente realísticos essa migração, que acabaria definindo a condição econômica e humana no seringal:

“São as secas do Nordeste que tangem para as cidades do litoral essa população de famintos assombrosos, devorados das fezes e das bexigas — a preocupação exclusiva do poder público consistia em libertá-las quanto antes daquela invasão de bárbaros. Mandavam-nos para a Amazônia — vastíssima e despovoada, quase ignota – o que equivalia a expatriá-los dentro da própria pátria. Nunca, até aos nossos dias, os acompanhou um só agente oficial ou um médico. Os banidos levavam a missão dolorosíssima e única de desaparecerem… e não desapareceram. Naquele extremo sudoeste amazônico 100 mil sertanejos ou 100 mil ressuscitados repatriavam-se de modo original e heroico, dilatando a pátria até os terrenos novos que tinham desvendado”.

A vila de Coary foi fortemente influenciada pelo primeiro ciclo da borracha e a grande produção de castanha do Pará no início do século XX. Houve dois ciclos da borracha e décadas de grande produção de castanha no município de Coary.

O primeiro ciclo da borracha foi um ciclo econômico que levou a uma intensa exploração de seringueiras e de produção de borracha na região amazônica durante o período de 1879 a 1912. Foi um período de grande riqueza para a região, mas também de exploração e violência.

Foi o período de grande produção de borracha na Amazônia, que teve um impacto significativo na região do Solimões. A economia do Amazonas se desenvolveu rapidamente, e a vila de Coary se tornou um importante e emergente centro extrativista. No entanto, o primeiro ciclo da borracha também teve um impacto negativo, pois levou à intensa exploração das seringueiras e o extermínio da população indígena que viviam próximo aos seringais.

Barracão do Seringal Socó, no rio Copeá de propriedade do Cap. José Ribeiro da Silva, Intendente Municipal de Coary

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Acham-se presentes:

1) O proprietário, tendo a sua esquerda a sua extremosa filha, Guiomar;

2) O gerente da casa, o Sr. F. Brazão, sua irmã D. Raymunda Brazão e parte do pessoal extrator, num dia de recebimento de borracha.

É, pois, um aspecto bizarro do sertão do extremo norte do Brasil, de cujas entranhas sai grande parte da receita geral da República.

Por outro lado, à vista da pasmosa porcentagem de crianças, também se pode concluir que a indústria extrativa da goma elástica favorece notavelmente o povoamento do solo.

Fonte: Reino da Borracha no rio Copeá – Revista “O malho” – 16/10/1909.

Visita de Oswaldo Gonçalves Cruz a Coary em 1913

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Oswaldo Cruz (página Cores do Passado 1)

Nesta localidade, situada a três dias de viagem de Manaus, paramos algumas horas. Coary é uma cidade de 600 habitantes que na ocasião das cheias recebe grande número de seringueiros, os quais para ali vêm depois da colheita da borracha, elevando-se então a população, segundo nos informaram, a duas ou três mil pessoas. A população de borracha no Município de Coary é bastante elevada, havendo alguns rios bastante ricos.

O povoado fica situado numa enseada do Solimões, num alto barranco e não é atingida pelas enchentes. Atravessa a cidade um igarapé de margens baixas, parecendo ser a fonte de Malária.

Examinando grande parte da população de Coary, ficamos surpreendidos diante do elevadíssimo índice endêmico, relativamente a Malária. Todas as crianças examinadas, em número de 80 a 100, apresentavam considerável esplenomegalia (Baço aumentado) e mostravam-se definhadas, a maioria delas em franca cachexia palustre. Nenhuma criança encontramos sem aumento considerável do baço.

Em adultos tivemos também oportunidade de verificar infecções crônicas e outras agudas pela Malária, causando-nos grande admiração alguns casos de considerável esplenomegalia, entre eles, numa mulher, cujo baço caíra no Hipogástrio, onde se encontrava com dimensões consideráveis e num homem, cujo baço tomava todo o abdômen.

Observamos ainda uma criança com infantilismo, provavelmente devido à Malária. Coary deve merecer como centro de produção de borracha a atenção do Governo nas medidas de profilaxia antimalárica.

A alimentação da população de Coary é a comum no Norte, predominando o peixe e a tartaruga. Há aí pequena cultura de cereais, nas proximidades da cidade, limitada a um mínimo quase desprezível, como atividade agrícola.

As residências de Coary são regulares e comparáveis as dos pequenos povoados do Sul. As casas são cobertas de telhas, sendo as melhores, rebocadas e caiadas.

A vida nos seringais de Coari

Os migrantes nordestinos que chegavam aos seringais de Coary, já estavam totalmente endividados. Eles tinham que arcar com as despesas da viagem, incluindo as passagens da família, as refeições durante o trajeto, as ferramentas de trabalho e os objetos para casa. Além disso, eles só poderiam fazer compras no barracão de aviamento. Local, onde todos tinham o seu caderno de anotações, em que era feito nota de suas compras com preços inflacionados.

No seringal, não havia circulação de dinheiro. A moeda de troca conhecida era o trabalho dos migrantes. Isso resultava em uma relação de dependência em que o dono do seringal exercia domínio e autoridade sobre tudo o que era necessário para a sobrevivência. A floresta tornou-se uma espécie de muralha da sua prisão, um cativeiro.

O seringueiro tinha a responsabilidade de produzir 50 quilos de borracha semanalmente. Para isso, começava a fazer talhos no troco da seringueira e recolher o látex às quatro horas da manhã, pois a árvore liberava mais seiva quando cortada mais cedo. Cada família possuía sua própria colocação, sua trilha e seu tapiri para tenta pagar uma dívida injusta, inflacionada e impossível de ser quitada.

O fim da Belle Époque

O primeiro ciclo da borracha encerrou-se a partir de 1912, devido a três principais fatores. Primeiro, a monocultura de seringueiras tornou-se vulnerável a pragas, como o “mal-das-folhas”, que devastaram as plantações e reduziram de maneira drástica a produção.

Segundo fator, foi a concorrência asiática, especialmente do Sudeste Asiático, que começou a produzir borracha (com sementes roubadas da Amazônia) de forma mais eficiente e econômica, reduzindo a demanda pela borracha da Amazônia.

Por fim, a especulação financeira desenfreada inflou os preços das terras e seringais, criando uma bolha econômica que estourou quando os preços da borracha despencaram, levando a uma crise econômica na região amazônica. O conjunto desses fatores resultou no colapso do primeiro ciclo da borracha e em décadas de recessão econômica na Amazônia.

Foram os nordestinos que sustentaram a economia coariense naquele momento. A mão de obra indígena já estava depauperada naquela altura, nunca tinha incorporado o disciplinamento da colonização, sempre resistiram e pagaram com a vida por isso. Dessa forma, os nordestinos movimentaram e desenvolveram a economia coariense. Eles se fixaram nas terras coarienses, criaram suas famílias, e aqui fizeram a sua história. Eles trouxeram consigo suas tradições culturais e culinárias, enriquecendo a diversidade cultural do município de Coary, desempenhando um papel fundamental no desenvolvimento e crescimento da vila de Coary.

5. Coari e a Castanha-do-Pará: Uma História de Comércio e Controle

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A castanha-do-pará, também conhecida como noz amazônica, castanha-do-brasil, castanha-da-amazônia, tocari e tururi, é uma árvore e semente que possui uma ampla variedade de nomes. Pertencente à família botânica Lecythidaceae, essa árvore é nativa da nossa floresta amazônica. Desde a chegada dos europeus à América do Sul, essa árvore tem sido mencionada e minuciosamente descrita em relatos de viajantes, religiosos e naturalistas.

A partir da década de 1920, com o declínio do primeiro ciclo da borracha, a castanha-do-pará emergiu como o principal produto de exportação na vila de Coary. Além disso, desempenhou um papel crucial na geração de receitas tributárias para o estado do Amazonas. Dessa maneira, o extrativismo da castanha-do-pará garantiu a manutenção da economia de Coari até na primeira metade do século XX e concomitantemente, a manutenção do sistema dos coronéis de barranco.

O sistema de produção de castanha tinha como objetivo principal, da mesma forma que acontecia com a borracha, atender à demanda do mercado internacional. Dessa forma, a exploração da castanha-do-pará também incorporou a antiga prática de extrativismo de coleta, que envolvia a organização e controle da mão de obra pelos empregadores, conhecida como aviamento.

O termo aviamento se refere à prática de fornecer mercadorias a crédito, ou seja, antecipar os suprimentos (alimentos, utensílios e equipamentos) que serão utilizados pelo coletor durante a execução das atividades de coleta.

Por essa razão, em Manaus foram construídas casas aviadoras e firmas de exportação de castanhas-do-pará. As casas aviadoras forneciam aos proprietários de castanhais, grandes volumes de mercadorias, que, por sua vez, pagavam aos exportadores com sua produção.

Os grupos que dominavam o comércio da castanha, assim como anteriormente o da borracha, eram os mesmos. Esses comerciantes enriqueciam cada dia mais e utilizavam sua influência política para monopolizar o mercado da castanha e adquirir extensas áreas de terra no município de Coari.

Apesar da castanha-do-pará ter um alto valor no mercado, a situação na floresta amazônica permanecia inalterada. O ribeirinho coariense, responsável pela coleta das sementes, era o que menos se beneficiava com a exportação do produto para o exterior. Ele vivia em condições de extrema pobreza.

O responsável pelo castanhal determinava o preço da castanha, que era vendida por hectolitro. No entanto, nem sempre as dimensões da caixa de madeira fornecida pelo patrão eram as mesmas dos ribeirinhos coarienses.

Em vez de receber dinheiro pelas sementes, os ribeirinhos de Coari trocavam-nas por produtos do barracão de aviamento, que tinham um valor muito mais alto do que o do mercado. Infelizmente, esses ribeirinhos acabavam se tornando eternos devedores, já que nunca conseguiam quitar suas dívidas. Eles ficavam presos ao castanhal, na esperança de acertar suas contas na safra seguinte, o que raramente acontecia.

O processo de produção da castanha iniciava-se com a colheita dos ouriços. Em seguida, ocorria a quebra dos ouriços para a retirada das sementes. Após isso, as amêndoas eram levadas para a lavagem, onde passavam por uma segunda seleção, e posteriormente eram secadas. Para transportar as sementes dos seringais para Coari, os grandes produtores utilizavam um barco de grande porte chamado de “batelão”.

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Abguar Bastos, renomado escritor modernista paraense, residiu em Coari no ano de 1927, quando trabalhava como secretário do prefeito Herberth Lessa de Azevedo. Durante esse período, Bastos escreveu o livro intitulado “A Safra”, cuja história se passa na vila de Coary na década de 1920. Nessa obra, o autor descreve minuciosamente o processo do ciclo da Castanha-do-pará na região:

“Ele sabe que é mais um prisioneiro do novo ciclo: o da castanha, tão cheio de peculiaridades. Sabe que está enredado e que nas vilas, nos sítios, nos rios, a luta é incessante. Sabe que a concorrência se desenvolve entre dois grupos poderosos: de um lado os extratores, de outro, os comerciantes, em conjunto com os castanheiros pequenos-proprietários e os castanheiros latifundiários. A família dos comerciantes pertence ao arrendatário de safras, o pequeno e o grande aviador, todos com a função de comprar e revender a castanha.

O arrendatário de safras compra a castanha nos paióis e vende-a no navio-grande. Os aviadores instalam seus estabelecimentos numa das capitais: Manaus ou Belém. E há, também, o “atravessador” que troca ou compra pequenas partidas de amêndoas para revendê-la ao pequeno aviador. São compradores ambulantes, que operam no período das safras, em canoas ligeiras ou à sombra dos batelões”.

Em 1940, Coari já se destacava como o maior produtor de castanha-do-pará no Amazonas, com uma impressionante colheita de 3.312 toneladas, equivalente a 40% da produção total do Estado. Contudo, a colheita da castanha era inteiramente voltada para o mercado internacional, de demanda restrita e inflexível, o que vinha acarretando grande instabilidade na cotação do produto.

Entre 1960 e 1967, os preços de exportação da castanha-do-pará variavam conforme o quadro abaixo:

ANOSUS$ por Tonelada
1960541
1961431
1962430
1963353
1964431
1965582
1966464
1967518

Em 1968, Coari enfrentou uma crise econômica de grandes proporções devido à queda nos preços pagos pelas empresas exportadoras. Esses preços ficaram muito abaixo do valor estabelecido nos contratos de financiamento, causando consequências catastróficas para a região.

Na parte 02 desse artigo vamos tratar sobre o comércio em Coari no início do século XX, o 2º ciclo da borracha, Coari o maior produtor de banana do Amazonas e a descoberta do petróleo na província de Urucu.

Leia mais em:

Gregório José Maria Bene e a Mudança da Freguesia de Alvellos – 1855

A Origem da Igreja Assembleia de Deus em Coari — Parte 01

Centenário de Dom Mário

Entrevista com Mara Alfrânia, Miss Coari 1990

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3 comentários em “Do Ouro Vermelho ao Ouro Negro: o crescimento econômico de Coary – Parte 01”

  1. A produção econômica inicial da cidade de Coari revela uma trajetória bem surpreendente.
    Dos povos originários aos nordestinos, que se tornaram cativos nos seringais e castanhais; muitos são nossos bisavós. Alguns, bem poucos tiveram sorte e trilharam outra via. Tudo impressiona nessa história.

  2. Pingback: Prefeito de Coari preocupado com falta de escoamento para produção - 1980 – Cultura Coariense

  3. Pingback: Fátima Acris voltando do Miss Brasil 1968 - Miss Coari

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