O Jornal Acreano “A Reforma” publicou na seção “Informações Telegráficas” uma matéria sobre a morte do Prefeito Herbert de Azevedo em Coari, na data de 03 de julho de 1927:
Um bando de castanheiros, superior a 20, assaltou a vila de Coari, assassinando o prefeito municipal Dr. Herbert Azevedo e mais quatro pessoas. O Dr. Herbert Azevedo, era filho idolatrado do coronel, jornalista e escritor Raul de Azevedo, deputado amazonense e administrador dos Correios do Amazonas e Acre.
Acabam de chegar a Manaus, os Drs. Anizio Jobim e Rocha Barros, juiz de Direito e Promotor da villa de Coari, respectivamente.
Em demanda da Villa de Coari, segue amanhã, o vapor “Alegria”, com um contingente de 40 praças, 2 sargentos, 4 cabos e 2 metralhadoras. Afim de apurar a responsabilidade dos fatos desenrolados ali ultimamente, foi nomeado em comissão o Dr. Raymundo Vidal Pessoa.
A expedição que se destina a vila de Coari, vai sob o comando do Tenente Alexandre Montoril, e como médico o Capitão Dr. Tariano Meira, conduzindo ambulância. No “Alegria” viaja também o tenente Gualter Marques Batista, nomeado promotor para servir na apuração da responsabilidade dos culpados da tragédia de Coari. Logo após a luta sanguinária da Vila de Coari, os desordeiros foram ao lugar “Apaurá”, sob a chefia de João Barreto Cruz, que ficou gravemente ferido. O tenente Zany Reis, que exercia o cargo de delegado da Vila de Coari, escapou dos sangrentos acontecimentos daquela localidade.
Relatório Final do Inquérito
Passamos hoje para as nossas colunas, a jurídica e bem fundamentada denúncia apresentada pelo nosso prestimoso e querido companheiro Gualter Marques Baptista, no caso dos assassinatos desenrolados no Município de Coari, Estado do Amazonas.
“Excelentíssimo senhor doutor juiz de direito designado para servir em comissão especial nesta comarca de Coari — O promotor público ad’hoc no exercício de atribuição que lhe é conferida por lei e baseado nos autos que esta acompanha, vem perante v. exe. denunciar de Pedro Flores Ferreira, Victor Flores Pereira, Argemiro Garcia, Raymundo Gomes da Silva, vulgo Pica-pau; Inocêncio Lopes Pereira, Antônio Lopes Pereira, Manoel Domingos da Costa, Silvarino Serra, Ludgero Pereira, Manoel Pereira, vulgo “Três Quartilhos”; Vicente Bartolomeu, Antônio Monteiro, vulgo “Porquinho”; Manoel Pereira, vulgo “Veado”; Manoel Paulada Silva, Ignacio Souto dos Santos, João Nazareth da Cruz, Raymundo Nonato da Cruz, Isaac Cohen, José Carvalho, vulgo “Pipira”; Manoel Lage e Antônio Zany dos Reis, este, tenente da Força Policial do Estado e aqui comissionado, aqueles moradores no lugar denominado “Apaurá”, deste município e comarca, atualmente reclusos à cadeia pública local, com exceção da Isaac Cohen, Antônio Lopes Pereira e José Carvalho, vulgo “Pipira”, que andam foragidos e se acham portanto, em lugar incerto e não sabido, pelo fato delituoso que passa a expor:
— Em meado do mês de junho último o delegado de polícia, tenente Antônio Zany dos Reis, tendo conhecimento de que Manoel da Cruz Barreto e Isaac Cohen insuflavam constantemente a Pedro Flores Pereira e Victor Flores Pereira para fazer as sucessivas ameaças de morte de que se diziam vítimas João Ferreira de Araújo e Francisco Assis Ferreira de Araújo, no referido lugar ”Apaurá”, onde também residem, mandou intimar, por intermédio do respectivo agente de polícia distrital, cidadão Antônio Mendes, os mesmos Manoel na Cruz Barreto e Isaac Cohen para virem à delegacia dar explicações a respeito desse procedimento reprovável e prejudicial à tranquilidade do lugar. Aguardava, pois, o tenente Zany, a vinda de Manoel da Cruz Barreto e Isaac Cohen para, então, com a presença de ambos, solucionar o caso do “Apaurá”, quando, às primeiras horas da noite de vinte e dois de junho, chegaram a esta vila, em duas embarcações — um batelão e uma canoa possante, — não somente Manoel da Cruz Barreto e Isaac Cohen, como também os demais denunciados, habitantes da zona do “Apaurá”, quase todos armados de rifle e revolver, com o fim preconcebido de suplantar pela força, de que dispunham, o delegado de polícia, tenente Zany e o promotor público da comarca, dr. Manoel da Rocha Barros, a quem votavam ódio satânico e mortal.
Atracaram suas embarcações ao porto, mais ou menos às dezenove horas, e aí ficaram na quietude intencional de criminosos verdadeiros que esperavam apenas o momento propício de estabelecerem a luta, da qual diabolicamente tinham a certeza que lhes caberia a vitória, porque contavam com a surpresa do ataque premeditado, a superioridade numérica dos componentes de seu grupo, armados e municiados convenientemente que estavam para aquela sinistra empreitada.
Na manhã do dia seguinte, isto é, do dia vinte e três de junho, logo cedo, pelas oito horas, compareceram Manoel da Cruz Barreto e lsaac Cohen, acompanhados de Silvarino Serra e Manoel Domingos da Costa, ao edifício da Prefeitura Municipal, onde dava o expediente, num dos seus compartimentos, o respectivo delegado de polícia, tenente Zany. Atendendo-os, a autoridade policial logo notara a atitude francamente hostil dos indivíduos que se achavam em sua presença para dirimir uma acusação cujos fundamentos se estavam averiguando regularmente. Em meio às indagações que fazia o tenente Zany teve de mandar recolher ao xadrez Pedro Flores Pereira e Victor Flores Pereira, que, chamados, ali se portaram desatenciosamente e com visível desrespeito à pessoa do delegado.
Quando seguiam os dois para a prisão correcional, escoltados por um praça da força policial, o única que compunha o destacamento local, correram em direção ao porto, lugar em que se encontravam suas embarcações atracadas, a bordo das quais se achavam os companheiros de insurreição. A combinação estava feita e ao primeiro grito de Pedro e Victor Flores Pereira, todos, de arma em punho, partiram em demanda da Prefeitura e, inopinadamente, atacaram a quantos ali se encontravam, num verdadeiro bombardeamento. Contra esta investida brutal e insidiosa vieram o dr. Herbert Lessa de Azevedo, prefeito municipal; o dr. Manoel da Rocha Barros, promotor da comarca e os funcionários municipais que por essa ocasião se achavam no desempenho de suas obrigações quotidianas. Ante a estupidez da agressão, o doutor Herbert e o tenente Zany lançaram mão de suas armas, revolver que conduziam no bolso e não trepidaram, estoicamente, tentaram repelir os bandidos atacantes. Em dado momento, Manoel da Cruz Barreto, aproveitando-se da confusão, ia se escapulindo, saltando uma das janelas, naturalmente para ir se reunir ao seu bando malfeitor.
Amedrontado, talvez, por essa possibilidade perigosa, o tenente Zany disparou seu revolver contra o fugitivo, pondo-o por terra, gravemente ferido, desse ferimento vindo hoje a falecer. Enquanto isso se passava à porta da Prefeitura, o doutor Herbert impedia, a tiros de revolver, que a horda de celerados penetrasse o edifício. Todavia, a disparidade de forças e de meios ressaltava aos olhos de toda a gente! Pedro Flores Pereira fez pontaria certeira com o seu rifle e alvejou, em pleno ventre, a queima roupa, o doutor Herbert, que ainda assim, profundamente atingido, feriu-o no braço homicida com a bala do revolver que detonara na luta em que se viu envolvido estupidamente.
O pânico estabelecido foi horroroso, não é possível descrevê-lo. Refugiado no sótão que há nos altos do edifício da Prefeitura, o doutor Herbert, o doutor Barros, o tenente Zany, Francisco Fraga e José Dantas da Silveira, dali se puderam evadir o doutor Barros e o tenente Zany que escaparam miraculosamente, por este meio, à sanha dos criminosos terríveis. José Dantas da Silveira, porém, na ocasião em que, do telhado da Prefeitura, procurava passar para o teto de uma casa contígua, foi alvejado pela bala do rifle que disparou, sucessivas vezes, Victor Flores Pereira, demorando a pontaria, cujo projétil, seguro, alcançara-lhe o rosto, deixando-o em estado melindrosíssimo.
Cessada a fúria que reinava entre os facínoras, puderam algumas pessoas retirar do sótão da Prefeitura o Dr. Herbert de Azevedo, que sucumbia horas depois, em consequência do ferimento recebido. Assim procedendo, Pedro Flores Pereira incorreu na sanção do artigo duzentos e noventa e quatro do Código Penal da Republica, Victor Flores Pereira na do Art. 294, combinado com o Art. 13 do mesmo Código e todos os outros denunciados no mesmo Art. 294 de combinação com o art. 21 e parágrafo 1º, menos o tenente Antônio Zane dos Reis, que está incurso no artigo duzentos e noventa e quatro do citado Código. E, para que sejam punidos devidamente, se oferece a presente denúncia afim de que, recebida, tenha lugar o processo da formação de culpa, em dia e hora previamente designados, notificando se as testemunhas abaixo arroladas para depor em presença dos acusados que já estão à prisão, feitas as diligências necessárias, inclusive a citação por edital, com o prazo de trinta dias dos acusados Isaac Cohen, Antônio Lopes Pereira e José Carvalho, vulgo “Pipira”, que se encontram em lugar incerto e não sabido.
Rol de testemunhas: – Primeira, major Deolindo Alfredo Dantas; segunda, Benevenuto Lima; terceira, Landolpho Euclydes de Oliveira; quarta, Manoel Nogueira da Silva; quinta, Aristotelina Gonzaga de Oliveira.
Informantes: — José Dantas da Silveira, Francisco Fraga, Antônio Mendes, João Ferreira de Araújo, Francisco de Assis Ferreira de Araújo, Luiz Abreu de Queiroz, — todos residentes nesta comarca. Coari, nove de julho de mil novecentos e vinte e sete.
(Assinado) Gualter Marques Baptista, promotor público ad hoc”.
Na denúncia acima transcrita proferiu o Juiz o seguinte despacho: — “Recebo a denúncia constante da presente, para fins legais, cite-se os acusados na forma requerida, para assistirem à formação da culpa que será iniciada no dia dez de agosto próximo, ás nove horas da manhã, no edifício da Prefeitura e na sala das audiências. Ciente a Promotoria e noti¬ficadas as testemunhas. Em nove de julho de mil novecentos e vinte e sete. (Rubrica): — Raymundo Pessoa”.
Os Seus Últimos Momentos – Depoimento de um Amigo
Ainda sob a impressão acabrunhadora dos últimos acontecimentos, de que esta vila foi teatro, escrevo-lhe para, minuciosamente, relatar-lhe o que vi e o que ouvi a respeito.
Na manhã de 23 de junho, saiu de casa, em direção ao edifício da Prefeitura para atender ao expediente diário, o Dr. Herbert de Azevedo, estimado Prefeito municipal, o qual, muito alegre, me perguntara se eu nada queria de fora; dizendo-lhe eu que mais tarde iria até a Prefeitura. Mais tarde, fui até a porta da rua, e vi que alguns indivíduos saiam da Prefeitura acompanhados de uma praça em direção a ponte.
Ao aproximarem-se da mesma, todos, quase a um tempo, correram para o lado do rio, penetrando no batelão que os transportara à vila, saindo logo, armados de rifle, aos disparos, que calculei serem para a praça que os conduzia, o que efetivamente era, pois, a praça correra para o interior do prédio de residência do delegado, nas imediações da Prefeitura. Imediatamente os atacantes cercaram a Prefeitura enquanto várias detonações estrondavam. Estabeleceu-se o pânico. Ao ver que a Prefeitura era atacada, corri a sala, dali retirando um rifle, com ele saindo em direção a ponte. Ao verificá-lo, notei que o mesmo estava desarmado, perguntando ao empregado que me seguia se não havia balas em casa. Recebendo resposta negativa, voltei, ao mesmo tempo que o dito empregado me dizia: – Não vá porque são muitos. Olhei em direção ao local do conflito e vi mais de quinze homens, desorganizados, a dispararem para o recinto da Prefeitura as suas armas. Diante disso, imponente, fiquei encostado à porta, sofrendo uma das maiores angústias da minha vida, e que era de ver um amigo dedicadíssimo exposto à sanha duma facção embriagada.
Procurei o filho do major José Joaquim de Sousa, visto este não estar na vila, e perguntei-lhe se poderíamos contar com alguns homens para a reação. Recebi resposta negativa, pois todos estavam fechados em suas casas enquanto outros fugiam para lugares ignorados.
Mesmo não havia nem munição suficiente. Uma lastima. Sentei-me no batente do calçamento assistindo ao que se passava no exterior. Gritos. Correrias. Tiros isolados. Invasão de casas vizinhas. Descargas. Reuniões sob uma árvore de canto onde fica o prédio alvejado. Fui até a casa do Dr. Rocha Barros, e aí procurei consolar a família deste meu amigo, aflita, aflitíssima, pois o Dr. Rocha Barros, promotor da comarca, estava também na Prefeitura. Voltei. Ao aproximar-me de casa alguém veio dizer-me que havia um corpo estirado numa das salas da Prefeitura, e que esse corpo era o do Prefeito. Não acreditei. Logo após era desmentido esse boato.
Era apenas um paletó que se achava no chão. Fui à residência do major José Joaquim de Sousa, tendo antes falado com um dos atacantes, que em companhia de dois companheiros armados de rifles e revolver, tinham vindo para o lado em que eu me encontrava.
Disse-me aquele assalariado que a questão fora motivada por terem ameaçado o pai, já velho, de uma surra. Mas que o Prefeito nada tinha com isso. Que o velho receberia essa afronta, que já estava ferido e que eles, filhos, haveriam de vingá-lo. Alvitrei que não deviam atirar nos quadros e utensílios da Prefeitura, depredação sem necessidades. Disse-me que estavam perdidos e por isso pouco ligavam ao destruído. Afirmou que os atacados estavam refugiados em pontos desconhecidos. Já em casa do major José Joaquim, recebi a dolorosa notícia de que o Prefeito vinha a caminho de casa gravemente ferido.
Corri, célere, ao seu encontro e ao defrontá-lo, numa cadeira, no meio de homens desconhecidos para mim, ouvi as suas primeiras palavras após a nossa última despedida:
Meu amigo, estou morto. Aqueles bandidos mataram-me.
Vinha com as pupilas estranhas, fatigado, com a camisa estraçalhada. Deite-o numa rede, na alcova de sua casa, e tratei de socorrê-lo com que estivesse no meu alcance. Os primeiros remédios aplicados. Lavei as feridas. Tinha muita sede. Não tinha sossego. Ansiava. Os olhos continuavam vagos e esquisitos. Estava frio, muito frio. Pediu-me o paletó que vestia no momento da agressão. Mandou que eu abrisse de novo. Isso feito pediu-me o espelho. Mirou-se. Entregou-me o objeto silenciosos e desiludido.
– Veja pouco… Companheiro, mataram-me os bandidos. Vinguem-me.
Animei-o. Tivesse paciência. O ferimento não era mortal. Havia cura. A esse tempo chegava a família do Dr. Rocha Barros, que fazia questão de o levar para a própria casa. O Dr. Herbert não queria. Depois aceitou a oferta.
Duas lanchas a cujos proprietários me dirigi para transportá-lo a Manaus, estavam inavegáveis. Escrevi uma carta ao major Deolindo Alfredo Dantas, que, como se sabe, era inimigo político de Herbert.
Disse-lhe que naquele momento de emergência gravíssima, deviam ser esquecidas as paixões políticas e que, sendo assim, esperava que ele me atendesse, cedendo-me a lancha ¨Alvorada¨ por afretamento e com a máxima rapidez.
Fui atendido imediatamente. A lancha, ás dezessete horas, estaria pronta para seguir. Apliquei no Dr. Herbert uma lavagem para verificar se os intestinos haviam sido lesados. Água limpa sem manchas suspeitas.
Transportei-o para a residência do Dr. Rocha Barros. Repetiu:
Aqueles bandidos mataram-me. Vinguem-me. Bandidos.
Depois: Sinto a morte. Nada vejo.
Queixava-se de dores horríveis. Muita sede.
Quero água, muita água. Isto me alivia.
Mais tarde teve esta frase:
Morro, porque não sou covarde.
Mandei procurar um senhor Góes, entendido em curas homeopáticas. Veio. Mandou que o ferido tomasse antipirina. Aplicações de maravilha. Não houve melhora. O doente queixava-se do coração. Pedia água de Colônia para friccionar no peito e aspirar.
Meu pai!- disse.
Chamou-me:
Pede a bênção de papai para mim.
Depois:
Companheiro, adeus!
Consolei-o. Impressão. Que ele não tinha febre. A lancha estava quase pronta. Paciência. Daqui a pouco embarcarás, disse-lhe.
Respondeu-me:
Tens razão, daqui a pouco embarcarei. Mas não na lancha…
Beija meu filhinho.
Angustiava-se.
Tenho um não sei que. Uma coisa. Uma agonia.
Mais tarde:
Não resisto.
Lembrei-me: óleo canforado. Ele dizia:
Ah! Se eu pudesse dormir.
Apressei a inoculação do óleo canforado. A aflição do meu grande amigo era enorme:
Depressa, a injeção, a injeção.
Foi-lhe aplicada a injeção. O estado aflitivo continuava. Alvitrei: ergotina.
Preparou-se lhe ergotina. O mesmo. O corpo esfriava com uma rapidez fatal.
Suava. Outra vez:
Companheiro, adeus! Apertava-me os braços.
A casa estava cheia. Fora, atropelavam-se inúmeras pessoas.
A voz do meu amigo começou a vir ininteligível, pesada, dissonante. De um lado do leito fiquei eu, do outro lado dona Edith da Rocha Barros; coloquei-lhe a cabeça sobre os meus braços. Deixou de falar. O corpo estava gelado. Os olhos rolavam lentamente. Era o fim.
Alguém lhe meteu nas mãos uma vela. Ficou-lhe segurando o Sr. José Joaquim Pereira. Apenas um termo breve, de vez em quando. Estava comatoso. Antes um desejo de dizer alguma coisa. Chegou a dizer-me:
Eu quero falar-te depois. É uma conversa de muito interesse.
Mais tarde: – Fez o que eu te disse?
Pensava que já tinha falado. Para não o impressionar, assenti.
Tomei-lhe o pulso. Escutei-lhe o coração. Cessava o movimento vital. Era o momento em que a lancha se aproximava. Não era mais preciso.
Eis os fatos de que fui presente, reais, sob a minha palavra de honra.
Várias testemunhas dizem que ele se portou com incrível heroísmo.
Afrontou a morte como um verdadeiro herói. As causas o meu amigo já sabe. Não fez referência a ninguém.
Calmo e forte não verteu uma lágrima. Profetizou a morte logo após o ferimento.
A uma visitante em Coari, professora pública, disse:
Vim morrer em Coari…, disse com ironia pungente.
Vesti-lhe um seu fato azul-marinho. Logo que se espalhou a notícia da sua morte, mesmo afrontando as balas miseráveis que ainda estavam na vila, quase toda a população veio à casa mortuária.
Era muito querido. Noutro dia, de manhã, uma velhinha veio a minha residência e na porta da rua chorou como uma criança…
(Diário Oficial, Manaus, 23 de junho de 1928).
In Memorian de Herbert de Azevedo
Local: Manaus – Editora: Palácio Real
Data: 1930 – Coleção: Amazoniana.
Fonte: Livro “Nunca Mais Coari” – Archipo Góes – 2016