Vamos observar nesse texto a narrativa do acidente com avião da Prelazia de Coari em 1971, em que o piloto Rios veio a óbito.
No dia 12 de abril de 1971, o avião monomotor de prefixo PT-DKC, pertencente aos padres redentoristas da Prelazia de Coari, mergulhou pela manhã nas águas do Lago de Coari, provocando a morte do seu piloto José Edno Rios Gomes e deixando gravemente ferido o passageiro José Arnaud Sales, gerente do Banco do Estado do Amazonas, agência local.
As primeiras notícias dão conta de que o piloto, na tentativa de desviar de uma canoa que surgiu no momento de aquatizar, provocou descontrole da aeronave, que adernou mergulhando posteriormente nas águas do Lago de Coari. José Edno Rios Gomes, ficou engatado no cinto de segurança, acompanhando toda a trajetória do monomotor, enquanto José Arnaud Sales, conseguindo se soltar foi retirado das águas em estado de coma, sendo internado no Hospital da SUSEMI existente na cidade de Coari.
O Voo
O monomotor de prefixo PT-DKC saiu as 9h do dia 12 de abril de 1971, de Manaus às 9 30 horas de ontem, levando em seu bojo além do piloto José Edno Rios Gomes, o gerente da agência do Banco do Estado do Amazonas (BEA), em Coari, que passou o fim de semana na capital.
No exato momento em que tentava pousar o hidroavião, surgiu segundo as primeiras notícias chegadas a Manaus, uma canoa. O piloto José Edno Rios Gomes ao tentar desviar da pequena embarcação, provocou o desequilíbrio do monomotor, tendo este adernado, mergulhando posteriormente sob as águas do Lago de Coari. José Edno Rios Gomes, engatado no cinto de segurança e em virtude do esforço que dispendeu na tentativa de corrigir a posição do avião, não teve tempo de fugir, enquanto o seu companheiro de viagem, José Arnaud Sales, em virtude do violento impacto, era depois socorrido por populares, em estado de coma, gravemente ferido.
Socorro
Pessoas que se encontravam nas proximidades do local onde o pequeno avião costumava fazer pouso, avistaram com espanto quando o monomotor de prefixo PT-DKC perdia o controle do rumo de voo, para depois mergulhar nas águas do Lago de Coari. Imediatamente, várias pessoas, com o auxílio de canoas, rumavam para o local, retirando o gerente do Banco do Estado do Amazonas, agência de Coari, que foi imediatamente içado e, quarenta minutos após o piloto José Edno Rios Gomes era retirado do interior do seu avião com ferimentos e já sem vida.
O corpo do jovem piloto foi transportado para a sua residência em Manaus, na rua 31 de Janeiro, no Morro da Liberdade. Assim como o gerente do BEA, José Arnaud Sales, foi transportado para tratamento em Manaus, uma vez que em permanecia em coma.
O Piloto
José Edno Rios Gomes, nascido em Manacapuru, tinha 29 anos, 4 dos quais trabalhando para a Prelazia de Coari como piloto, profissão que sempre sonhara em se realizar. Era filho de Maria Reis Gomes e Raimundo Gomes da Silva, funcionário do Ministério da Agricultura. Concluiu o curso técnico na Escola Técnica Federal do Amazonas, para depois empenhar-se na carreira dos seus sonhos: ser piloto. Em 1965 viajou a São Paulo onde foi licenciado por uma Escola de Aviação, retornando a Manaus onde passou a trabalhar para a Prelazia de Coari, dos padres Redentoristas, realizando diariamente voos aquele município em desobriga profissional.
José Edno Rios Gomes, no dia 2 de março último, realizara mais um sonho de sua vida. Contraiu matrimônio com a jovem universitária, estudante de 29 anos da Faculdade de Odontologia, Vera Lúcia Abugoste Gomes, a quem conhecera há dois anos e nove meses, período em que faziam planos para unirem-se pelo matrimônio que se realizou no mês passado. Na manhã de ontem, José Edno Rios Gomes acordara bem cedo, dizendo que iria transportar duas pessoas que pretendiam ir a Coari, o gerente do BEA, José Arnaud Sales e o comerciante Galdino B. Guedes residente na rua Belém, 407 que desistiu da viagem minutos antes de ela se realizar.
Antes de se dirigir ao Aeroporto, José Edno, como de costume, levou a esposa Vera Luzia para a escola, dizendo que voltaria ainda ontem, pois teria de resolver uma série de problema…, em que se incluía a reserva de passagens em uma agência de viagens para sua irmã Rosa Maria Gomes, que deverá chegar a Manaus nos últimos dias deste mês procedente de São Paulo. Iriam segundo ficou acertado, fazer compras no mercado. As primeiras horas da tarde de ontem, entretanto, Vera Lúcia recebia a triste notícia: o avião pilotado por seu marido mergulhava no Lago de Coari, provocando-lhe a morte.
Vera Lúcia Gomes dizia que sempre que José Edno Rios Gomes realizava uma viagem, ela lhe dizia: “amor toda vez que fazes uma viagem eu tenho a sensação de que você vai “morrer”, pelo que ele acalentava: “você não entende de aviação”.
José Edno Rios Gomes, no ano de 1968 esteve na Califórnia. Estados Unidos, onde fez um curso de aperfeiçoamento de aviação e conduziu o avião de prefixo PT-DKC que fora adquirido nos Estados Unidos pelos padres redentoristas, no interior do qual ele morreu.
Depoimento in loco de Seresta (Francisco Oliveira e Silva) sobre o acidente do avião do bispo Dom Mário no lago de Coari.
— Eu estava no flutuante Texaco, que é até hoje, o comércio de venda de combustíveis de nossa família. Junto comigo estava um funcionário que chamávamos de Cabo Rural, pois ele era parecido com o famoso militar que vivia em Coari.
— Quando o avião chegava, tradicionalmente dava uma primeira volta para verificar se não havia nenhum obstáculo (canoa, barco, tronco). Quando eu ouvi o barulho do avião, saí para assistir, pois naquele tempo tudo era novidade, a gente quase não avistava avião em Coari. Mas, ao vê-lo, eu percebi algo diferente. Uma roda do trem de pouso estava baixada. Era comum que quando o avião chegava, as duas rodas estavam recolhidas.
— Infelizmente, naquele dia uma roda estava recolhida e a outra estava baixada. Ao perceber isso, achei muito estranho, pois ao sair do aeroporto, esse hidroavião usava o trem de pouso para a decolagem, mas para aquatizar (amerissar) não há necessidade do uso das rodas e sim dos flutuadores.
— Na segunda volta, o hidroavião veio para fazer o pouso aquatizando (amerissagem), porém, ao tocar nas águas do lago de Coari, a roda fez o avião tombar para ao lado, justamente onde a mesma estava baixada, ficando de cabeça para baixo, com uma parte da aeronave imersa sob as águas.
Seresta chamou o seu funcionário, pegaram uma canoa e foram rapidamente ao encontro do avião. Os dois remaram velozmente e ao chegarem no local, Seresta conseguiu abrir a porta do avião e o gerente do BEA (Banco do Estado do Amazonas) conseguiu sair e passar para a canoa.
Seresta perguntou pelo piloto Rios, e José respondeu que estava pegando a sua pasta de documento do banco. Mas, Seresta observou que o piloto Rios não estava consciente. E neste exato momento o avião se movimentou, batendo a porta e descendo mais fundo no lago.
Seresta mergulhou e tentou abrir a porta novamente para salvar o piloto Rios, porém não conseguiu. Foi quando veio um pensamento em sua mente: — E se o avião explodir? — Então resolveu subir e voltar para a canoa.
Foi quando chegou mais pessoas em outras embarcações para ajudar. Seresta relatou também que mais tarde quando o avião foi arrastado para terra, e os primeiros socorros começaram a ser prestados, viu uma grande marca roxa no peito do piloto Rios provavelmente causada pelo manche do avião e poderia ser o motivo dele está inconsciente na hora do acidente.
Excerto do livro “Nunca Mais Coari” de Archipo Góes – 2022
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1 comentário em “Avião mergulhou no lago de Coari matando o piloto – 1971”
Mais uma surpreendente narrativa de um fato, que além de ser curioso na história e vida da cidade de Coari, foi muito trágico.
Quantas histórias e situações ainda iremos ver sendo reveladas nesse grande blog !