Archipo Góes
A Saga de Fátima Acris
O Miss Coari é um concurso de beleza mais tradicional do estado do Amazonas. Teve seu início no ano de 1940 e foi organizado nos anos iniciais pela associação Tijuca Esporte Club e depois de alguns anos, passou a ser organizado pela prefeitura de Coari, que no decorrer do tempo, mudou o local do concurso para a Praça da Matriz, quadra de Esporte São José, Refúgio Dois Pinguins, quadra da escola Dom Mário e atualmente no centro cultural.
A nossa primeira Miss Coari foi a senhora Emília Abinader Ribeiro em 1940, esposa do senhor Messias Ribeiro, expressivo comerciante de nossa cidade. E no decorrer do tempo, o povo coariense foi entendendo, aprendendo e se envolvendo no seu concurso mais expressivo de beleza feminina.
Todos os anos a população já espera chegar o mês de agosto, especificamente no dia 02, aniversário de nossa cidade, para torcer por sua candidata preferida ao Miss Coari, título muito concorrido na Cidade da Beleza ou Terra de Mulheres bonitas. Designação muito pertinente, visto que, na história de nossa cidade há uma exaltação à beleza das indígenas da região, feito o registro pelo Padre João Daniel, no seu Livro “Tesouro descoberto no máximo Rio Amazonas”. Ele as descreveu assim:
“Algumas fêmeas a que além de suas feições lindíssimas, têm os olhos verdes e outras azuis, com uma esperteza e viveza tão engraçadas que podem ombrear com as mais escolhidas brancas”.
O livro foi escrito entre 1741–1757 e dessa forma, podemos concluir dedutivamente, que a maneira em que se formou o povo coariense, advém da miscigenação entre os viajantes europeus que por essas terras passaram e os povos indígenas nativos.
As indígenas coarienses são descendentes diretamente dos Jurimáguas[1] que nas passagens das belas Icamiabas[2], nessa terra, se relacionavam e as meninas nascidas dessas uniões permaneciam junto às amazonas, e os meninos eram entregues aos pais da tribo dos Jurimáguas, juntamente com um amuleto da sorte denominado muiraquitã.
Com essa miscigenação e mais tarde, com a chegada dos imigrantes turcos, libaneses, árabes, judeus e a migração dos nordestinos nos dois ciclos da borracha, formou-se um povo com características físicas típicas de várias “raças” com uma rica e belíssima mistura. Surgindo assim, as coarienses, as mais belas mulheres da Amazônia.
A constatação da beleza coariense ficou muito evidente em 31 de maio de 1968, no concurso de Miss Coari realizado no Tijuca Esporte Clube, no período que se realizava a festa da primavera e a escolha também da Miss Primavera. A vencedora do concurso de Miss Coari 1968 foi a linda coariense, Maria de Fátima de Souza Acris.
No ano de 1968, era então, o último ano do primeiro mandato do prefeito Clemente Vieira Soares, e o mesmo conduziu com sua esposa, Fátima Acris, para participar do Miss Amazonas 1968 com todos os cuidados e muitas notas nos jornais manauaras.
O concurso aconteceu na noite de 8 de junho de 1968 e foi promovido pelo Jornal do Comércio e a Rádio Baré.
O baile de “Miss Amazonas 1968” foi iniciado às 22h40min, em que logo, o mestre de cerimônia, Dr. Jayme Rebello, deu início ao desfile em traje de noite encantando todos os presentes. Na passarela, que estava estendida de uma extremidade a outra do salão de danças do Rio Negro, desfilaram: Maria das Graças Garcia (Clube Municipal), Evan Neves (Bancrévea), Helen Rita Guimarães (Princesa Isabel), Maria de Fátima de Souza Acris (Cidade de Coari), Theolinda Franco Duarte (Diretório Acadêmico da Facilidade de Filosofia da UA) e Greice Marques (União Esportiva Portuguesa).
Em seguida, aconteceu o desfile em traje banho (Maiô), assim sendo possível tirar todas as dúvidas sobre os critérios avaliativos das medidas e a beleza de cada participante. Logo após, as candidatas se retiraram para os camarins do clube, esperando a decisão da Comissão Julgadora. Enquanto os juízes se reuniram para eleger a mais bela amazonense daquele ano, Zeina Chama, Miss Amazonas 1967, desfilou para encerrar seu reinado, sendo vibrantemente aplaudida pelo imenso público.
No momento final, houve o anúncio da vencedora do concurso, a coariense Fátima Acris, que foi ovacionada pela verdadeiramente multidão que se comprimia no “Salão dos Espelhos” do Atlético Rio Negro e na área fronteiriça ao clube.
O concurso de Miss Amazonas 1968 premiou Fátima Acris com produtos da Sanyo e Mundial Magazine, passagem ida e volta para Miami pela Avianca e uma viagem a Salvador, onde a mesma prestigiou no Ginásio Antônio Balbino, a eleição de Martha Vasconcellos como Miss Bahia 1968.
Coari viveu na madrugada daquele domingo, momentos de intensa euforia. Pelas ondas da Rádio Baré, os conterrâneos da Miss Amazonas 1968 acompanharam com ansiedade o concurso. Quando foi conhecido o resultado, o povo saiu à rua cantando em meio a um foguetório.
Inez Batista disse:
“Coari fez festa. Ficamos todos no canto do Mengo Bar esperando o resultado pelo rádio. O desfile tinha transmissão ao vivo pela rádio Baré. Lembro que saímos pulando e parecia a vitória do Brasil no futebol”.
O Miss Brasil de 1968 foi um concurso inesquecível na lembrança das pessoas que são apaixonadas pelo mundo da missologia. O ano de 1968 ficou na história como o ano da escolha da nossa segunda Miss Universo, a baiana Martha Vasconcellos. Martha e Fátima Acris se destacaram na sua preparação do concurso e na expressiva divulgação de suas fotos nas revistas e jornais de grande circulação em todo o país.
O concurso de âmbito nacional aconteceu no dia 29 de junho de 1968, no Ginásio do Maracanãzinho, Rio de Janeiro. Foi promovido pelos “Diários e Emissoras Associados” e foi transmitido pela saudosa TV Tupi. Houve a participação de 25 candidatas, representando os Estados e Territórios brasileiros. A grande festa nacional da beleza começou com a apresentação em traje de gala, em seguida em trajes típicos e finalizou com traje banho (maiô).
O resultado do concurso elegeu Martha Vasconcelos como Miss Brasil 1968 e ela foi credenciada para representar o Brasil no Miss Universo, que aconteceu no dia 13 de julho de 1968 no Miami Beach Auditorium, em Miami Beach, Flórida, nos Estados Unidos. E novamente, Fátima Acris foi acompanhar mais uma vez Martha receber um título, o segundo Miss Universo para o Brasil.
Fátima Acris foi a única coariense a participar de um concurso nacional do Miss Universo até hoje. Contudo, tivemos mais duas Miss Amazonas: Mara Alfrânia Batista Batalha (1991) e Cleomara Araújo (1992).
Desde a década de 60, Coari tem a tradição de revelar grandes talentos para os concursos de beleza ao nível estadual e até nacional. Fato que vem influenciando diretamente nesses 50 anos a paixão dos coarienses pelo concurso de Miss Coari e ajudaram nossa cidade a ser chamada “Terra da Mulher Bonita”.
Fica aqui minha homenagem à Fátima Acris, que neste ano de 2018, completa 50 anos de seu eterno reinado. Dona de uma beleza suave, angelical e sobretudo, que irradiou sempre simpatia. Essa mulher que saiu de sua cidade, onde trabalhava nas Casas Pernambucanas e, no período de um mês, partiu para o mundo, deixando em Sua Coari um legado de dignidade e uma história que influenciou sempre o empoderamento da Mulher Coariense.
[1] Tribo também conhecida por Solimões, a mais guerreira e brava dessa região.
[2] Tribo de mulheres guerreiras conhecidas por Amazonas, que não aceitavam a presença masculina em sua tribo.
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