A Saga de Maria Higina em Terras Coarienses

Maria Higina
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A senhora Maria Hígina, uma mulher que estava à frente do seu tempo e viveu em Coari entre as décadas de 1960 e 1970. Foi prefeita do Trocaris, poetisa, cronista do Jornal do Comércio e seringalista.

Maria Higina

Desde minha infância já ouvia histórias intrigantes da personagem que venho aqui descrever, relatos contados pelos meus pais e tios que ficaram na minha lembrança. Maria Higina teve uma trajetória que ousou desafiar o seu tempo em um local ainda muito controverso.

Hoje, a cidade de Coari não conhece as suas realizações, os seus eventos e contribuições para nossa população, na zona rural e para a sociedade coariense. Ela é lembrada apenas pelo nome de uma rua transversal que liga a rua Marechal Deodoro a rua XV de Novembro, no Centro.

Maria Higina Cartucho Mendes da Silva, segundo a sua certidão de casamento, nasceu em Manaus em 12 de janeiro de 1927. Era viúva do coronel Francisco Mendes da Silva Sobrinho. Era mãe do coronel Manoel Bonaparte Mendes da Silva, Sra. Maria Ane Mendes da Silva Gomes, Sra. Terezinha de Jesus Mendes da Silva Pereira, major Luiz José Mendes da Silva e o Sr. José Bonifácio Mendes da Silva.

A senhora Maria Higina era uma personalidade muito conhecida em Coari. Herdeira de grandes seringais na comunidade do Trocaris. Sua postura era de uma verdadeira “Coronel ou Baronesa de Barranco”, pois, cuidava de sua propriedade com braço forte para que não houvesse desfalque na colheita da castanha. Ela costumava andar com um resolve na cintura para melhor poder impor respeito aos comandados

Ao conversar com o amigo, Padre Nelson Peixoto, sobre a nossa personagem, ele me repassou um interessante texto de sua autoria:

Os Antigos Ouviram Falar

Desobriga X Comprometimento na Luta!

Encontrei histórias da Maria Higina na versão daqueles que descreviam sua valentia feminina, beirando para mim mais como Dona da Casa Grande que amava os seus na contradição do resultado da castanha, cuja alma de ternura também não faltava.

A parada mais interessante foi eu ter conhecido um gerente de castanhal dela que trabalhou no Trocaris. Andei mais na costa do que dentro da boca, mas foi na ilha de Trocaris onde em noite de Natal sem anjos dourados, mas com hansenianos alegres comensais, ceamos debaixo do Tapiri Comunitário que servia de Capela. O Jerimum coalhou de frio na caldeirada de tambaqui salgado. Jacson e Nelson, dupla solimônica missionaria, entreolhávamos felizes por aquela noite de Natal! Mas chegava à lembrança de outros tempos de calor na mesa de nossas outras famílias!

Mas, a Maria Higina com seu capataz de confiança mandava que ele olhasse a floração das castanheiras para calcular o volume da safra. Ele acertava porque se não desse quase exata em hectolitros vinha a desconfiança da resistência dos “colocados” que colhiam os ouriços da boca das cobras. Castanha enterrada para a “cotia”, anzol grosso debaixo da canoa descendo o rio em noite de lua, levando castanha em paneiros mergulhados.

Havia resistência e compromisso de união e menos desobriga. Talvez naquelas mais antigas a subversão e a desobrigação de comprar mercadoria e vender só para o patrão… muitas histórias… o Poço do Tuba depois conto em outra oportunidade. Grato pela lembrança de nossas remadas nos lagos e rios das antigas desobrigas.

Nelson Peixoto

Maria Higina era pessoa muito conhecida no município de Coari, não somente por ser proprietária de castanhais, mas, também por sua grande cultura. Ela era muito conhecida e bem relacionada em Manaus, onde residiu por muitos anos, tendo inclusive colaborado para o Jornal do Comércio, com algumas crônicas.

O renomado professor José Ribamar Bessa Freire, meu grande incentivador para uma percepção crítica e reflexiva sobre a história de Coari, através do seu livro “Amazônia Colonial”, que fiz minha primeira leitura na biblioteca de Coari, com os meus 17 anos. Era material, ainda impresso com mimeógrafo a pasta. Ele pelo meio de uma postagem, no seu site Taquiprati, faz uma intrigante descrição sobre a nossa personagem:

Pérola do Solimões

Bessa Freire
7 de janeiro de 2007

A história do quase-bombardeio de Coari quase entra no hino oficial da cidade, com música do padre Antônio (Stubem) e letra de dona Higina, a poeta de Trocaris. Dona Higina nunca falava, declamava. Não dava bom dia, desejava alvíssaras. Um dia, visitando a biblioteca do seminário, perguntou assim como quem não quer nada:

— Oh, é aqui que vindes sorver, qual sagazes abelhas, o mel da inteligência?

Se ela era assim, coloquialmente, imaginem escrevendo o hino da cidade. A letra descreve o coariense como “gente forte e viril, sentinela da liberdade”, proclama que Coari é a pérola do Solimões e exalta, no estribilho: – Oh Coari, oh Coari, nossa cidade em flor / São teus campos perfumados, são tuas praias um esplendor / Oh Coari, Oh Coari, não tens rival / nesse rio coloooooooossal.

…/…

Em outro texto denominado “Alvíssaras, dona Higina”, de 17 de julho de 2022, ele a descreveu assim:

“Nós, os seminaristas redentoristas, assistimos várias vezes o espetáculo, único divertimento local, sempre aberto por dona Higina, poeta, dona de castanhais e intelectual orgânica de igarapé, que nunca falava, declamava. Nem dava bom dia, irradiava alvíssaras. Com a voz tremelicando e lambendo os beiços, ela repetia nas solenidades e eventos a mesma frase, que ouvi pela primeira vez na inauguração da biblioteca do seminário e foi tão martelada, que ficou gravada para sempre em minha memória: — Oh, é aqui neste recinto que vós vindes sorver, qual sagazes abelhas, o mel da inteligência”.

Em 15 de abril de 2016 – Nelson Peixoto comentou:

“Você José Bessa ampliou minha compreensão mais humana acerca da Maria Higina. Em minhas andanças pelo Trocaris via a admiração do povo, mas a tinha como uma boa gerente de castanhais que certamente dominava e explorava o trabalho dos colocados.

Na verdade, minha atuação era mais nos castanhais da bacia do lago e rios a dentro. Minha luta junto aos castanheiros era para poderem plantar bens de raiz, não depender unicamente do barracão, ter condições de ir para a cidade comprando gasolina para seus rabetas e outros. Tenho histórias bonitas de resistência aos patrões, mas conheci e entrevistei um capataz, não lembro bem se trabalhou com a Maria Higina, mas pela floração das castanheiras, ele sabia fazer o cálculo dos hectolitros no fim da safra. E aí. Castanheiro… podia ser que estivesse vendendo ou escondendo castanha para alcançar um preço melhor por tirar da boca da cobra, como diziam”.

Durante uma conversa com Nelson Peixoto, ele compartilhou uma história bastante intrigante:

“Ela possuía um funcionário de nome Antônio Paulino, que atuava como uma espécie de capaz dela no Trocaris. Ele era extremamente habilidoso em calcular a safra em hectolitros com base na floração das castanheiras. Havia algo de mítico nesse processo, e ele utilizava esse mito para intimidar as pessoas, visando minimizar ao máximo o basculho”.

Artigos para o Jornal do Comércio:

INTERROGAÇÕES MISTERIOSAS

Maria Higina
5 de junho de 1956

O dia amanheceu chuvoso e sombrio. Mesmo assim, o assobio do vento envia o hino melodioso aos galhos dos arvoredos, os quais, como bandeiras altaneiras, flutuam com fortes vibrações, parecendo lutarem desassombradamente pela soberania do solo de nossa região.

Mas através das horas insondáveis que passam, há um estranho desencanto, um mudo lamento, uma amargura persistente, oculta, ressentida, mesclada de dor e nostalgia; há também, uma vasta sensação misteriosa de melancólicos sentimentos. É, num desses dias fora do comum, que o cérebro fica confuso ao ser assaltado pela coragem do desespero, em que fumamos cigarros após cigarros, procurando nos deter sem nos mover durante longos momentos, a fim de observar o impulso invencível do destino traiçoeiro que, com as suas perspectivas sombrias, vai impiedosamente cortando os laços que unem os divinos e harmoniosos desejos da nossa tão almejada tranquilidade. Enfim, é uma hora de anotação diferente, em que a gente larga a pena com o olhar para o relógio, cujo tique-taque angustioso, acelera o inexplicável fenômeno dos sitiais dos tempos. Com esse misto de apreensões, com essas investigações carregadas de expectativas, extraordinariamente dolorosas, é que prosseguimos observando os contrastes das vidas, as diferenciações de sentimentos, as falhas de individualidade destes que, aliados aos vigaristas sem classificação, não vacilam em estimular malfeitores a fim de cometerem, ousadamente, nas caladas da noite, inesperadas tentativas de homicídio, pondo em jogo perigoso, a vida de pacatas criaturas.

Não tem limite a vergonhosa afronta das inconscientes teorias falhas desses indivíduos que, sem critério, vivem sob a máscara mentirosa da hipocrisia e, dia a dia, vão multiplicando assustadoramente os meios para alcançar a solução de suas cegas trampolinagens, que, narradas, são inacreditavelmente deploráveis. A análise da assombrosa curva de irregularidade destes malabaristas da chantagem, os quais são prisioneiros de insaciáveis perfídias, são joguetes das mais contraditórias inclinações, chega ao auge do absurdo.

Desta forma, indiferentes ao direito e à razão, vão confundindo, assim, o espirito de tolerância, o instinto de conservação, com a indigna covardia.

Como vemos, decididamente, os lances audaciosos desses desajustados vão ganhando terreno e deixam profundos vestígios de seus roteiros marcados, sem, entretanto, refletirem, a que ponto poderão chegar essas graves e danosas consequências. Assim, em meio a essa onda incrível de ocorrências desrespeitosas do “salve-se quem puder”, passadas em pleno coração de nossa princesa do Solimões que é Coari, verificamos o balanço triste e desolador das estranhas crises de burlas escandalosas e a violação do sagrado templo da Justiça e da Lei.

Agora, ao término destes fragmentos de verdades clamorosamente lamentáveis, quando lançamos o nosso olhar para a distância longínqua do prolongamento deste Brasil imenso, amado e admirável, cuja terra é de promissão e cuja ordem assegura confiança, justiça e estabilidade, queremos sublinhar as interrogações misteriosas que pairam no ar, nesta época de incertezas perigosas e, ao mesmo tempo, inquirir de nós para nós: para onde caminhamos? Aonde iremos parar e o que será de tudo isso!?…

Maria Higina

Outro artigo que escrito por nossa Maria Higina para o Jornal do Comercio foi:

ETERNO RECONHECIMENTO

Maria Higina
9 de fevereiro de 1958

Enquanto a noite desdobra aos nossos olhos as condições de sua atmosfera encantadora, observamos que o pêndulo do relógio, com a calma soberana de suas delicadas badaladas, parece que acentua um sentimento novo, diferente, a cada frase que surge momentaneamente.

É num desses momentos que fugimos das tristezas mornas da vida, são instantes em que o pensamento mesmo encarcerado no subterrâneo da realidade das coisas, reza um breviário ungido de emoções, daí porque, de início vai deparando com o céu, com o facho luminoso do seu colar de estrelas, as quais, manifestam a paisagem suave dos traços indefiníveis da sublimidade de Deus. E vamos além, percorrendo as estradas largas da distância onde contemplamos a lua, com a sua claridade estonteante como quem envia sorrisos límpidos de felicidade à terra, com isso, trazendo ainda nossa mente, a imagem protetora do glorioso SÃO JORGE guerreiro, que no alto, galopa com seus arreios de prata, no seu maravilhoso e fantástico corcel.

Com o desfile desses quadros imponentes e sugestivos, harmonizados com o espetáculo da noite, a qual, vai dando ao percurso das horas uma, atração verdadeiramente fascinante, é que temos a impressão que, a própria natureza, soberana, grandiosa com seus conjuntos esguios e altaneiros, parece que está ajoelhada num altar divino, implorando fervorosamente proteção a todos os seus habitantes. É justamente na hora milagrosa da alvorada dos sinos de sua majestosa catedral, é no minuto em que ela aprofunda o ritmo da testa diferente, enfim, é na ocasião do canto mavioso dos versos do poeta, o qual, passa doce e sereno na dança feiticeira da alegria das horas.

Sem lisonja é preciso que se diga: nossas florestas estão soberbas espetaculares, felizes e deliciosas, não só falando a linguagem mágica do sentimento dos seus rios, de seus lagos e dos seus igapós, como também sentem com entusiasmo, o incentivo ofertado ao espírito dos nossos caboclos de mãos calosas, os quais dentro do anonimato, constroem abnegadamente, a prosperidade do Amazonas, para a glória do Brasil.

Assim, pelas orlas dos caminhos, com o coração bondoso, ora longe, ora perto, na vitória? ou nos revezes, no prazer ou nas aflições, eles vão segundo, levando em mente, a lembrança risonha e afetiva que conforta e reforça, suas sentinelas avançadas, as quais, continuarão a montar guarda firme, com as armas do desassombro, visando apenas, conciliar a despreocupação com a constante vigilância. Como vemos, nossos patrícios prosseguem animados, dentro da encruzilhada do tempo, sempre confiante na proteção da divina providência, muito embora, vivendo longe, muito longe, do brilho das lantejoulas da nossa tão almejada civilização.

E agora, ao verificarmos que tudo isso confunde-se na admiração de quantos, vivem embalá-los no doce voo dos múltiplos estímulos, temos a certeza que os nossos bravos conterrâneos bateram palmas, felizes com a felicidade de A Gazeta, no dia alegre da comemoração de seu decênio. Sim, eles enviaram mentalmente as suas justas congratulações, pelo aniversário desse simpático vespertino, que não só possui a fórmula especial, adotada nas trincheiras dos legítimos direitos da defesa coletiva, como também, possuem um inesgotável reservatório de incentivo, cuja chave fortifica a segurança no futuro e dá luzes ciaras aos motores de nossa persistente coragem.

Portanto, é natural que a sombra dessa alegria chegue até ELES, com imensa satisfação e que estejamos convictos que, aqueles que foram homenageados principalmente por esse brilhante órgão da imprensa, terão naturalmente, no rol das tarefas de suas profissões e na tábua de seus inúmeros deveres, o modelo primário e inicial da grandeza do patriotismo construtor de nossa adorada PÁTRIA.

Assim sendo, a esses que nos estimularam, que são nobres pela fidalguia de atitudes, vai aqui, as nossas felicitações cordiais, extensivos não só ao Deputado ARTUR VIRGÍLIO FILHO e Augias Gadelha, como também, a essa plêiade de jovens da Imprensa, especialmente a Aldévio Praia e Júlio César, os quais, fizeram parte da comissão julgadora do concurso, que nos deu credenciais para representar os nossos colegas castanhedários e castanheiros de 1957. A todos pois, o nosso sincero e eterno reconhecimento.

Maria Higina

Parabéns para você!

Maria Higina
9 de novembro de 1958

A aragem fresca do vento nos brinda, com os sons do conjunto angélico de melodias moduladas, neste domingo de festa em que a passarada espalha o riso da alegria e as flores da esperança. Sim, é aos fulgores do alvorecer deste dia que, divisamos lá longe, distante, uma imagem infinitamente piedosa a qual, parece que lança suas santas bênçãos sagradas, à toda imensidade da beleza da terra.

É na doce sarabanda das horas que, essa imagem divina com o seu milagre sublime parece que reza ao som do coro grandioso da doutrina cristã, o breviário fantástico da singeleza da vida. É no instante entusiástico da alvorada bendita que ela expressa com sadia alegria, a comunhão de ideias, que fortificam o sentimento aproximado com a sublimidade de Deus. É quando o dia flutua num rio de vibrações, porque toda a cidade está engalanada para manifestar sua satisfação, seu contentamento, ao participar, da festa tradicional e jubilosa dos alunos disciplinados do Colégio Dom Bosco.

É o dia da Festa do Diretor, do Reverendíssimo Padre Pascoal Felippelli, o sacerdote que professa a religião imortal de fazer o bem, sem olhar a quem. Esse sacerdote que é o guia abnegado dos adolescentes, e que, no piedoso altar de harmonia celestial, deste grandioso Colégio vai deixando um rasto heroico no doce recordar dos dias que se passa porque, com a sua sensibilidade terna de admirável educador, reza as orações bem-aventuradas da maravilhosa cartilha da vida. Portanto, é natural que todos se parabenizem, com os alunos e suas dignas famílias neste dia de grandes comemorações festivas nesta data da festa tradicional deste colégio que é um símbolo para mocidade amazonense. Sim, neste dia que se acentua o colorido vibrante das parasitas dos igapós, as quais, trazem de longe, lembranças vivas de semblantes amigos, que cantando dos felizes com a felicidade de todos os alunos!

Parabéns para Você, Reverendíssimo Padre Pascoal Felippelli !

Maria Higina

Alvorada Divina

Maria Hygina
25 de dezembro de 1958

Não há dúvida. A fisionomia encantada da beleza desse dia de festa universal tem uma admirável sedução excepcional. É o dia solene das palavras amigas, consagradas ao nascimento do Menino Jesus; é um dia embalado pelo vento brando da tranquilidade do tempo, esse tempo que com passos cadenciados, percorre a estrada interminável dos anos e vai prosseguindo sempre, sem alterar a sua marcha e sem pará, e segue, e vai olhando o presente, passando em direção ao futuro…

Hoje é o dia da concordância íntima entre o céu e a terra; é o dia da alegria contagiante, espontânea, a qual, sugere poemas místicos, emotivos e sentimentais. É quando em meio a um clarão de intenso contentamento, num ambiente de vibração celestial, numa doce expressão de confiança e respeito religioso, todos os fiéis se ajoelham no eterno templo do horizonte de suas crenças, a fim de entoarem hinos sacros e implorarem bênçãos misericordiosas ao reino de Deus. Hoje é o dia da Noite Feliz, é dia da amorosa legião de mensageiros do Menino Jesus os quais, numa demonstração de bondade fraterna, percorrem as alamedas luminosas e intermináveis, a fim de revelarem a sublimidade de suas riquezas de imagens. É o dia da festa das velas coloridas, das bolas multicoloridas, das árvores com presentes desse velhinho simples, bondoso e amável que é o Papai Noel. A data hoje é jubilosa, é tradicional, porque elevou o sentimento de todos os povos Cristãos, dando com isso, um impulso definitivo para o progresso da nossa civilização. Portanto, é natural que, de forma sutil e bela, haja convites íntimos, para o mavioso concerto da majestosa festa da Cristandade: é justo que, todos estejam atraídos pelo som de badalar festivo dos sinos; que pobres e ricos, grandes e pequenos, estejam aptos a tomarem parte, num torneio imponente de frases soltas, simples e expressivas, a fim de que possam se consagrar devotamente ao ideal da Paz.

E nós, com essa farta reserva de afagos espirituais, ao contemplarmos os brindes entusiásticos desse dia alegre, filho das horas, também observamos que, o mundo inteiro está radiante, está empolgando com as suas valiosas credenciais, com o acolhimento afetuoso que o céu lhe concedeu para com serenidade suprema, poder esboçar o grandioso perfil do milagroso Menino Jesus. E, com essa selva milagrosa de encantos do céu, instintivamente somos impulsionados pelo símbolo sagrado da nossa devoção — Deus — e, mentalmente num transporte de ternura indefinível, fazemos uma análise no arquivo das nossas reminiscências queridas e inolvidáveis. Depois… com os olhos perdidos pelas paisagens maravilhosas do fascinante mundo de Deus, deparamos com os anjos bem-aventurados os quais, mesclados de beleza e alegria deslisavam em curvas suaves e harmoniosas pelo espaço afora, como se fossem entoando hinos sacros de gratidão a Jesus. Paramos um pouco… sem alterar o colorido singelo do nosso pensamento. Nessa ocasião, tivemos a impressão que, na hora afetuosa e magnífica de alvorada divina, exalam impressionantes essências perfumosas de inspirações, as quais impregnam o espirito daqueles que, cantam os versos nostálgicos da saudade, pelos longínquos caminhos da vida…

Maria Higina

No início da década de 1960, o Brasil passou por mudanças significativas na área política, cultural e na área social. Era o fim dos anos dourados com a explosão da cultura do Rock. Estava emergindo a Bossa Nova e o Tropicalismo que muito contribuíram para a riqueza cultural do Brasil.

Em 1960, Juscelino Kubitschek finalizou seu mandato presidencial, que ficou conhecido pelo lema 50 anos em 5. Durante seu governo, houve um foco significativo no desenvolvimento econômico e na modernização do país, simbolizado pela construção de Brasília, a nova capital. Além de investir na infraestrutura do país, com a construção de rodovias, ferrovias, aeroportos e usinas hidrelétricas. E por fim, a implantação da indústria de base, as indústrias automobilísticas, isso trouxe mudanças significativas nas áreas urbanas, mas também resultou em desigualdades socioeconômicas.

Jânio Quadros assumiu a presidência da república do Brasil em 1961, mas renunciou poucos meses depois, levando João Goulart à ascensão do poder. Contudo, ele enfrentou uma forte oposição e, dessa forma, foi deposto em 1964, dando início à ditadura militar no país. A sociedade brasileira estava passando por transformações, com um aumento na urbanização e mudanças nos padrões de vida. No entanto, as desigualdades sociais persistem, especialmente nas áreas rurais.

Já especificamente no estado do Amazonas, assim como o restante do Brasil, a população experimentou mudanças significativas na área política, social e cultural, no início da década de 1960. Contudo, o que se passava nos grandes centros urbanos do país estava muito longe da vida no interior do estado, em que a sobrevivência era ainda muito difícil. A população era majoritariamente rural, e as condições de vida eram precárias. A população enfrentava problemas como a fome, as doenças e a falta de educação.

Em 1960, o governador do Amazonas era Gilberto Mestrinho. Ele assumiu o cargo no dia 31 de janeiro de 1959 e governou até o momento que seu mandato foi interrompido pelo AI-01(Ato Institucional número um) que cassou o seu mandato em 9 de abril de 1964. Mestrinho era um político popular e carismático, teve um papel significativo na política regional. Um dos projetos que afetou muito a vida população das cidades interioranas foi o desmembramento e a criação de vários municípios, alterando a arrecadação e os repasses das maiores cidades e dificultando a manutenção das contas da receita fazendária de cada município.

Coari, por sua vez, era uma cidade desassistida na área de saúde, educação, sistema viário, não havia o sistema de esgoto. Naquele momento, voltou ao governo municipal o prefeito Alexandre Montoril, que administrou Coari no período do Golpe de 1932, na ditadura de Getúlio Vargas. Foi uma forma muito diferente para ele, administrar a cidade de Coari agora, na época da democracia.

Em 1960, o bairro de Chagas Aguiar já estava em pleno desenvolvimento e era a esperança de uma área onde Coari poderia crescer em terras firme e de grande altitude. A história da formação do bairro, segundo o Professor Manoel Francisco Gomes, ele foi constituído pela aglomeração nas proximidades da foz do igarapé do Espírito Santo por um senhor chamado Manuel das Chagas. Como era uma área muito grande, foi inicialmente dividida também com a família Aguiar. O Professor Manoel Francisco conseguiu essas informações entrevistando os moradores antigos do bairro. Dessa forma, no ano de 1956, com a junção dos sobrenomes das 02 famílias, formaram o bairro de Chagas Aguiar.

O desenvolvimento do bairro foi afetado pela separação do Centro da cidade pelo grande e largo Igarapé do Espírito Santo. Para se atravessar era preciso pagar uma catraia ou ter a sua própria canoa. Assim, seria preciso construir uma ponte muito alta e com 100 metros de extensão.

Para solucionar esse grave problema que dificultaria em muito o desenvolvimento da cidade, foi criada uma comissão para angariar fundos para a construção da ponte sobre o igarapé do Espírito Santo. A criação dessa comissão independente foi necessária devido à grande queda na arrecadação dos repasses para a prefeitura de Coari, fato esse, que aconteceu devido aos desmembramentos das áreas de Camará e Piorini para criação de novos municípios independentes.

A senhora Maria Higina foi integrante muito importante da comissão para a construção da ponte sobre o igarapé do Espírito Santo. Ela e a senhora Lindalva Dantas, primeira vereadora de Coari, foram as únicas mulheres que participaram dessa relevante, exemplar e bem-sucedida empreitada para a criação de uma obra fundamental para o crescimento e desenvolvimento de nossa cidade.

Fundada em Coari uma liga para a construção da ponte

Jornal do Comércio – 6 de fevereiro de 1960

Maria Higina

Viagem a Manacapuru para noite de autógrafos

No dia 17 de novembro de 1961, a próspera cidade de Manacapuru, no Amazonas, foi palco de um importante evento cultural. O romance “Linha do Equador”, do escritor Gebes Medeiros, foi lançado na residência do prefeito Edmundo Seffair, com a presença de toda a sociedade manacapuruense.

Mais de cem livros foram vendidos na noite de autógrafos. Diversos oradores fizeram-se ouvir, elogiando o romance e sua importância para a cultura regional. O livro recebeu uma boa crítica na impressa nacional.

Nesse evento estiveram presentes o prefeito de Coari, Alexandre Montoril; Dr. Cândido Honório, Juiz de Direito; e dona Maria Higina, que agendaram para que houvesse em Coari uma noite de autógrafos.

Templo Sagrado

Maria Higina
Jornal do Comércio
4 de setembro de 1963

Amazonas, só teu nome e a tua maravilhosa posição geográfica, são bastantes para inspirar invejável sedução, profundo e admirável respeito. Tuas encantadoras flores as têm clorofilas excepcionais, tem algo de eloquente no som melodioso da música suave que vem de teus imensos recantos, possuem a formula mágica da vontade de tua soberania, da porque, nunca estais alheio aos casos que te são confiados e, no momento amargo da nossa intranquilidade, onde quer que este a um de teus filhos, ao ouvir o toque de reunir do nosso dinâmico condutor, do condutor dos nossos destinos, verificamos de pronto, assegurada com rapidez a defesa de nossos direitos.

Sabemos, também, que tu admiras o AMAZONAS, és a nossa religião, a tarefa primordial de nossas vidas porque acentuas a bravura de nossos antepassados, os quais nos legaram o breviário “de amar a DEUS sobre todas as coisas”. Não há dúvida de que teus filhos são sentinelas voluntarias e permanentes, os quais confiam nas fortificações de tuas esperanças, cheias de visões seguras, daí porque não temem os limites dos grandes sacrifícios na hora do inevitável perigo. Na realidade, és um ESTADO monumental, próspero, civilizado e feliz, com perspectivas de um saliente futuro e para dar mais valor aos quadros extasiantes de tua extraordinária grandeza, tens o privilégio de possuir um guia respeitável, o qual, com a sua figura serena e sincera, agi com admirável agilidade primorosa visão e rica capacidade de atitudes, as quais aliadas a devotados planos, vem acentuando a marcha contínua da concórdia, com isso conquistando a confiança harmoniosa de todos os seus governados. Sim, referimo-nos ao nosso dinâmico administrador, o qual, com o colorido original de seu espírito, com o equilíbrio e orientação da execução de seus planos, cujo lema é defender os nossos direitos, sabe deslizar as válvulas de segurança, que tem extensão com fatos estranhos, os quais de maneira geral, andam de braços dados com a escravidão do tempo, que com as suas arrojadas peripécias, suas múltiplas facetas, faz com que toda gente medite e se refugie em si mesmo. Dessa forma, sem favor algum, teremos que fazer justiça ao inédito estadista Amazonense, o qual adota técnicas para aplicar soluções práticas, que tem perícia para desatar as correntes de conflitos, que de maneira assustadora vem acentuando os sinais dos tempos em nossa idolatrada terra.

E nesta hora em que ouvimos um coro de vozes rezando as maravilhosas orações bem-aventuradas da vida, quando se avizinha o dia em que será comemorado com grandes pompas, a data magna da emancipação política do nosso grandioso AMAZONAS, quando toda mocidade radiosa de nossa terra desfilara feliz pelas ruas de nossa admirável cidade, cantando com entusiasmo hinos de glória que inundarão o espaço de vibrações esperançosas, virtudes essas que representam a defesa dos nossos legítimos direitos, quando irmanados pelas comunhões de ideais, todos espalharão flamulas triunfantes da supremacia a estabilidade de nossa tranquilidade como também desdobra a mobilização pacifica do bem contra o mal.

Portanto, idolatrado AMAZONAS, nós que sonhamos com o progresso da nossa terra, que somos amantes da ORDEM e da JUSTIÇA, que acreditamos na energia de nossas atividades, pois bem também temos certeza de que JESUS há de proteger o nosso dinâmico GOVERNADOR, doutor PLÍNIO RAMOS COELHO, para que ele com suas reservas de energias, continue executando seus planos vitoriosos, pois assim, não há dúvida, teremos a BANDEIRA do partido de segurança de nossa organização, içada no imponente e majestoso TEMPLO SAGRADO, local onde se abrigam as nossas santas famílias.

Maria Higina

Após a criação do município de Trocaris, Maria Higina é nomeada prefeita.

Maria Higina, uma mulher progressista e influente, foi nomeada prefeita do novo município de Trocaris, no Amazonas. A sua nomeação foi recebida com entusiasmo pelo povo local, que esperava que ela transformasse a região numa cidade populosa e próspera.

Em um dia emocionante, 9 de junho de 1963, a notícia da nomeação da Senhora Maria Higina como prefeita do recém-criado Município de Trocaris pelo Governador Plínio Coelho reverberou como um hino de esperança. Foi um gesto justo e louvável do governador, que reconheceu os méritos indiscutíveis da valente mulher amazonense.

Maria Higina prometeu transformar Trocaris em um centro progressista, delineando um futuro brilhante para a região banhada pelo Solimões, com o apoio decidido da administração coariense de Clemente Vieira Soares. A expectativa entre os habitantes do Trocaris era festiva, estavam ansiosos por mudanças positivas e estavam em Coari para recebê-la calorosamente e conduzi-la em um desfile triunfal até a sede trocariense. A solenidade de posse, realizada na Secretaria de Interior e Justiça, contou com a presença de ilustres autoridades e amigos, testemunhando o início de uma era promissora sob a liderança inspiradora de Senhora Maria Higina.

Era esperado que este capítulo marcante na história de Trocaris fosse um prelúdio de prosperidade e união para todos os seus cidadãos. Porém, logo o decreto foi revogado.

Maria Higina

Têmpera e Sensibilidade de uma mulher, a serviço de um Município Amazônico

Revista Manaus Magazine – 1967

Maria Higina

Com o rio Amazonas, a espelhar-se em suas barrancas desnudas, está o “Recanto da Saudade” — TROCARY, coração do município populoso de Coari, grande produtor de castanha e outros produtos que enriquecem a economia estadual do Amazonas.

TROCARY, é um lugar aprazível, bem cuidado e cuidado com amor, possuindo uma feição acentuada de vila, que lhe dá um aspecto saudável e elegante: TROCARY, pertence a D. Maria Higina Mendes da Silva e familiares.

TROCARY, é um ornamento na paisagem do município de Coari, e antes de tudo, é uma fonte equilibrada de progresso comercial, carreando com seus produtos, grande numerário para o município.

TROCARY, é acima de tudo, um pequenino pedaço do Céu na terra, dado o carinho e o amor que sua proprietária a ele dispensa. Dona Maria Higina, é indiscutivelmente a alma e o coração de Trocary, pois pelo seu persistente esforço contra o detrimento de terceiros, trabalha sem desfalecimento, tornando o seu trabalho progressista, pois é trabalho feito com amor, dedicação, lágrimas e muita renúncia.

É notável o descortino profundo de Maria Higina, à frente de Trocary, pois tem sabido cumprir sua missão no interior, procurando sempre e sempre melhorar a vida dos caboclos que dela dependem, com o único objetivo de prestar solidariedade aos humildes e necessitados.

TROCARY, levantou-se refeito para uma gloriosa jornada, pelas mãos amorosas de Maria Higina, que comandando pessoalmente todo o trabalho de seus subordinados, procura fazer com boa vontade e justiça, para o município de Coari, Trocary, desenvolver-se ainda mais.

Maria Higina, realiza uma grandiosa obra de progresso e trabalho, demonstrando sua fibra e seu largo descortino, efetuando um magnífico plano de trabalho, sozinha, com ajuda de Deus e fazendo do Trocary um oásis de paz, ternura e amor. Positivamente, Maria Higina por seu esforço e pelo trabalho que realiza, merece esta homenagem sincera de MANAUS MAGAZINE, que assim procura demonstrar aos seus leitores, o que pode fazer uma mulher, cheia de boa vontade e que executa uma grande obra, sem temer ameaças ou incompreensões. Espirito desprendido e cheio de renúncia, é dona de qualidades cheias de matizes diversos. O seu nome é respeitado e acatado pela dedicação resplandecente do seu caráter de mulher digna e lutadora, afeita à luta pela sobrevivência.

TROCARY é MARIA HIGINA — MARIA HIGINA é TROCARY, e se confundem pela luz que emana espiritualmente dos mesmos, fazendo sua jornada benéfica e progressista.

TROCARY é o milagre feito pela mão de uma, mulher, simples e corajosa, que foi impelida para frente, por uma alma de real quilate, um coração generoso, uma embaixatriz de bondade e alta compreensão humana.

Mulher admirável, pela coragem, pela renúncia, pelo ritmo caloroso de um coração sofrido e vivido. Enquanto existir Maria Higina, essa heroína desconhecida, Trocary e o município de Coari, terão um lugar na vanguarda pela conquista de uma vida melhor e mais salutar.

COARI QUALQUER COISA DE CÉU QUALQUER COISA DE SONHO

Farias de Carvalho
Revista Manaus Magazine
Dezembro de 1966

Amanhecia. O sol flamejando papoulas-vermelhas como sangue, acendia na pele argêntea do rio.

De repente, como um passe de magia e encantamento; uma torre branca arremessou-se contra o céu, como uma falange de neve riscando o que tranquilo na manhã plena de luz e de vida.

Era Coari, parecia um milagre, ou uma miragem. Esfregamos os olhos como se não quiséssemos crer que fora possível existir um oásis assim, plantado como uma bênção. No verde coração da selva imensa. Não. Não era sonho. Era verdade concreta e objetiva. O Oásis existia mesmo. E chamava-se Coari. Atestado eloquente de beleza e civilização, de progresso e de paz, onde os olhos se embevecem e a alma banha-se de benesses.

Em terra contemplando tudo do seu excelso trono de amor e de bondade, Maria Higina pontifica como uma Amazona lendária. No seu Olimpo de fulves esplendores, ensinando lições de bem-querer, ditando mandamentos de fraternidade tão plenas de fé e de pureza, que por momentos chegamos a esquecer o velho mundo mau de bombas e de guerras fratricidas. Pensando bem, Coari, ainda que por rápidos momentos, sentindo a grandeza imensamente Amazônica da alma de Maria Higina, ocorreu-nos a ideia. Nesta segunda metade de século, conturbada e aflita, sacudida por ódios e ambições, de sugerir aos homens que governam povos, que comandam nações que invés dos congressos e dos debates improfícuos e ocos onde muito se discute e nada se faz, advém colocar Coari na sua rota. Nas suas agendas. Nos seus programas. E então, depois de um crepúsculo, onde o sol incendeia hemoptises no horizonte, devem curar Maria Higina. E depois de beijar: fronte irmã, de mirar seus grandes olhos esplêndidos como o luar de nossa terra, aprenderão, pura e simplesmente, que a vida é bela e boa, nas coisas simples e puras, quando nós somos simples e bons. Como Higina. Os seus olhos. E o seu grande, imenso belíssimo coração, Prof. Farias de Carvalho

Maria Higina

Moradora de Coari recorre a Danilo

Jornal do Comércio – 05 de abril 1967

O governador Danilo Areosa recebeu da sra. Maria Higina Cartucho Mendes da Silva, residente no município de Coari, mensagem telegráfica do teor seguinte:

“Recorro à autoridade de Vossa Excelência no sentido de ser determinado a captura do indivíduo Carlos González Peres, mais conhecido pela alcunha de “Dom Thomaz Peruano”, conhecido ladrão e assaltante que após registrar antecedentes reprováveis foi preso e evadiu-se da cadeia local indo alojar se nas imediações de minha propriedade denominada “Trocaris”. Como são decorridos vários dias sem qualquer providência que dê freio ao referido lunfa e temerosa de um inesperado assalto ao paiol onde tenho certa quantidade de castanha, estou recorrendo ao alto espírito de Vossa Excelência solicitando os meios legais, as medidas e as providências, antecipando o meu eterno reconhecimento. Atenciosamente”

Maria Higina

Preparação das Misses de Coari

A senhora Maria Higina por muitos anos ajudava a organizar o concurso de Miss Coari, realizado pelo Tijuca Esporte Clube. E após a realização do evento local, ela ajudava na participação das Misses eleitas no concurso Miss Amazonas, principalmente no ano de 1968, com Fátima Acris. Fátima foi a nossa primeira Miss Amazonas coariense e naquele mesmo ano de 1968, foi disputar o Miss Brasil.

O Falecimento de Maria Higina

Jornal do Comércio – 20 de janeiro de 1979

Faleceu às quatro horas da manhã do dia 19 de janeiro de 1979, em Belo Horizonte, na Clínica Geriátrica “Associação Paulo de Tarso”, a senhora Maria Higina Cartucho Mendes da Silva, viúva do coronel Antônio Mendes da Silva.

A extinta era amazonense, proprietária no município de Coari e aqui viveu muitos anos. Deixou os seguintes filhos: Coronel Manoel Bonaparte Mendes da Silva; sra. Maria Ane Mendes da Silva Gomes, casada com o Coronel Fernando Gomes; sra. Terezinha de Jesus Mendes da Silva Pereira, casada com o dr. Nidio Gonçalves Pereira; major Luiz José Mendes da Silva, casado com a sra. Dulce Mendes da Silva e o sr. José Bonifácio Mendes da Silva, casado com a sra. Lúcia Mendes da Silva. Deixou também em Manaus uma irmã, a sra. Vitória Cartucho Figueiredo, viúva do dr. Huascar de Figueiredo e funcionária do Ministério da Fazenda.

A sra. Maria Higina Cartucho Mendes da Silva era pessoa muito conhecida no município de Coari, onde era proprietária de castanhais, assim como era muito conhecida e relacionada em Manaus, onde residiu muitos anos, tendo inclusive colaborado no Jornal do Comércio, com numerosas crônicas, muito ao seu estilo.

Sra. MARIA HIGINA CARTUCHO MENDES DA SILVA

Manaus Magazine
Dezembro – 1968

Maria Higina

Não apenas os laços de afetiva e efetiva amizade que nos ligam a MARIA HIGINA CARTUCHO nos impelem a inscrever seu nome em nossa galeria de homenageados.

Mais do que isso, o valor inquebrantável de uma mulher de rígida moral; uma mulher, em resumo, que dignifica e enobrece o sexo a que pertence.

Podendo viver a desfrutar a tranquilidade que lhe pode oferecer o centro civilizado de uma cidade como Manaus que a cada dia mais cresce, MARIA HIGINA CARTUCHO, adora um outro meio civilizado, administrando suas propriedades, com pulso forte e energia, no município de Coari, no seu decantado «recanto da saudade» — Trocarí.

Alma de poetiza, sensibilidade de artista das cores e das luzes, MARIA HIGINA prefere o bucolismo de TROCARÍ, onde ao cair da tarde, ouvindo o marulhar das águas barrentas do Solimões, o chilrear da passarada em revoada, a terra tingida pelos raios vermelhos do sol que morre no horizonte, recorda o passado, vivendo-o na saudade de seu recanto encantador.

As dificuldades que, às vezes, depara, ou as vicissitudes com que outras oportunidades enfrentam, não lhe aquebrantam o espírito, não lhe esmorecem o ardor pelo trabalho. E a essa mulher — símbolo de uma geração — que rendemos nossa homenagem incluindo-a em nossa galeria.

Maria Higina

Sra. MARIA HIGINA CARTUCHO

Revista Manaus Magazine
Janeiro – 1970

Maria Higina

Vivendo em seu “Recanto da Saudade”, no labor sempre constante da luta pela existência, uma mulher, que tem um pouco de Florence Nightingale, uma parcela de Joana d’Arc, constrói com amor, com carinho e dedicação, obra imperecível, no trato e cultivo de terras de sua propriedade, que a seus pósteros dirá: aqui viveu e trabalhou MARIA HIGINA CARTUCHO.

Tendo na alma laivos de poetisa e no coração traços marcantes de um acurado amor ao próximo, MARIA HIGINA CARTUCHO, que homenageamos nesta oportunidade, é bem a figura de Florence Naitingalee, a espargir o bem, dona de um grande espírito de humanitarismo, mas que se rebela e se revolta, se agiganta e se transfigura, ante uma injustiça, quando sente um seu semelhante subjugado pela prepotência de irresponsáveis.

Por isso, justa a nossa homenagem a essa mulher brilhante.

Nossa homenagem-carinho

Revista Manaus Magazine
Maio de 1968

Bravura e dignidade são o símbolo sagrado de Maria Higina, a propulsora do encanto do “Retiro da Saudade” em Trocary

Maria Higina

Criaturas há que nasceram predestinadas a sobressair entre a maioria, pela espartana coragem, pelo valor intrínseco, pela bondade alicerçada em bens morais e pela virtude de luta, trabalho, renúncia e nesse destaque está MARIA HIGINA CARTUCHO MENDES, que dia 12 de abril, marcou no calendário mais um ano de vida benfazeja e radiosamente repleta de bondade, coragem e distinção.

MARIA HIGINA é aquela figura simples e prestativa que conhecemos há longo tempo. Cheia de desprendimento e larga visão, transformou TROCARY, num quase Éden, para isso fazendo um trabalho colossal quase inumano. Ocupando o cargo de direção do castanhal de propriedade de sua família, MARIA HIGINA, transformou antipatizantes em camaradas, realizado um trabalho fecundo e produtivo, em prol do engrandecimento de sua gleba e com isso trazendo um pouco de progresso à cidade de Coary, da qual o município de TROCARY faz parte.

Assim é Maria Higina, essa figura simples e simpática, afável e inteligente, que tirou do nada o TROCARY e transformou numa visão e num sonho realizado.

Os anos passam e MARIA HIGINA continua sendo um espírito vivo, sincero e leal exemplo de marcante honestidade nos dinheiros públicos e dona de um coração de mulher humanamente boa, cuja vida tem sido uma luta sem trégua, e sem bandeira. Jamais se empolga, ou envaidece pelo que fez ou realizou, naquele pedaço do Amazonas. Com espírito de justiça, sua educação esmerada, soube cria em seu redor, uma atmosfera de benemerência, um círculo imenso de admiradores sinceros. Seu nome está gravado na história de TROCARY e COARI pelos próprios méritos e real valor e somente a sua inata bondade, pode manter a calma e boa ordem, quando inimigos quiseram, sem resultado nenhum, apagar seu prestígio, conseguido nas constantes lutas em prol da terra querida. Com seu espírito de concórdia, tudo enfrentou e enfrenta, na certeza de ter superioridade moral, esta é a prova do seu trabalho profícuo.

Legítima figura de uma família de tradição, MARIA HIGINA, no TROCARY — o Recanto da Saudade — comemorou sua data maior, recebendo as mais expressivas demonstrações de carinho e amizade.

Maria Higina

INESQUECÍVEL RECONHECIMENTO

MARIA HIGINA
Revista Manaus Magazine
Dezembro de 1967

Dentre os promissores municípios do nosso fabuloso Estado do Amazonas, sobressai-se COARI, que é sem dúvida alguma, a nossa atraente Princesa do Solimões.

O gorjeio natural dos lindos pássaros multicores, o farfalhar das brisas mornas de verão, os arrebóis de céus róseos tangidos de inigualáveis tonalidades, as extensões extasiantes de belas e ricas florestas, a placidez das águas barrentas do rio, a refletir um firmamento macheado de luar, os dias ensolarados e límpidos sempre suavizados por ventilação que acaricia e conforta, eis o cenário de atração, encanto e fascínio com que nossa adorável terra brinda os seus habitantes, os quais de braços abertos, recebem os viajores que nela se abrigam.

O povo de nossa cidade, é alegre, acolhedor e tem sentido de orientação para o trabalho e o progresso, percebendo-se à primeira vista, a determinação que a todos impulsionam de lutar e vencer. Foi justamente participando desse inconfundível ambiente que recebemos carinhosa manifestação de apreço e benquerença de nossos diletos amigos dos “Rádios e Diários Associados” de nossa querida Cidade Risonha. Sim, foi quando se promoveu a escolha de “MISS AMAZONAS” 1967, Coari fez-se representar pela graciosa jovem MARIA DAS GRAÇAS DE OLIVEIRA E SILVA, cuja participação no aludido certame, a todos deixava inequívocas impressões, do seu esforço e bom desempenho, da missão que lhe foi confiada, correspondendo assim, aos dirigentes do “Clube da Felicidade” que é um órgão caçula na cidade, porém constituído de figuras representativas de Coari, Manaus e da inolvidável Cidade Maravilhosa. Devemos salientar que, o “Clube da Felicidade” foi fundado com acerto e êxito a fim de enviar sua representante “MISS COARI” para participar do concurso máximo da beleza do Nosso Estado.

Cumpre-nos ressaltar como nota de indispensável valor, o dedicado patrocínio prestado a nossa representante, a essa promoção Coariense, a qual foi dada pela maior “Cadeia de Jornais e Rádios da América Latina” e cuja Superintendência no Amazonas, cabe a figura estimada de Epaminondas Barauna. Também não poderemos esquecer a colaboração dinâmica e admirável de Jayme Rebelo, Diretor Artístico da nossa festejada “Rádio Baré” o qual ao lado de seus simpáticos colegas, locutores, Clodoaldo Guerra, Ernani de Paula, Índio do Brasil, Josaphat Pires e da encantadora Maria do Céu, sim a todos de uma maneira geral, que não mediram esforços para o êxito completo desse esplêndido certame, aqui fica nosso amplexo grato e reconhecido.

Digna de menção e elogio também foi a cobertura de divulgação prestada pelo eficiente e conceituado cronista Back, quando de sua estada em nossa Princesa do Solimões.

Impõe-nos mencionar também as atenciosas visitas que em Coari nos fizeram os distintos gentlemen, os quais se fizeram acompanhar de suas jovens e adoráveis esposas. São os amigos, José Portela e José Miguel Loureiro, respectivamente Vice Presidente e Secretário do Sindicato dos Comerciários do nosso Estado. Também não poderemos olvidar o prezado diretor da mesma entidade, Flávio Araújo a quem deixamos aqui nossos cumprimentos respeitosos, pelas suas atitudes de apreço e cordialidade. Queremos outrossim, deixar patente, o quanto nos foi grato as demonstrações de sincera e constante atenção que nos prestaram o festejado cantor Almir Silva, e os ilustres integrantes do brilhante e mavioso “Conjunto Orquestral de Domingos Lima” bem como os atraentes “Os Tropicais” conjunto este; que tem a abalizada direção de Agenor Rio Branco, sim, a todos o nosso reconhecimento amistoso.

Agora, ao terminar desta nossa apresentação acentuamos que, a quantos nos deram sua parcela de colaboração para “MISS COARIENSE”, a nossa meiga Maria das Graças, a fim de que pudesse desempenhar a sua missão junto ao concurso “MISS AMAZONAS”, sim, a todos que colaboraram conosco, externamos nosso inesquecível reconhecimento e, pomos a disposição os nossos humildes préstimos, aqui em nossa Princesa do Solimões, onde o encanto de sua portentosa natureza que é rica de beleza, em par, se associa cordialmente como o seu povo, que vive, trabalha e almeja, e, no se debruçar sobre a placidez de seu incomensurável rio, reflete para o céu, a imagem de seus corações repletos de confiança e esperança no Divino Mestre, daí porque, acentuam em seu espírito, nobres anseios e ideais de paz, harmonia e Progresso.

Maria Higina

Conclusão:

Maria Hígina foi uma mulher notável que deixou um legado duradouro em Coari. Ela foi uma líder visionária que se destacou em uma época em que as mulheres tinham poucas oportunidades de liderança. Sua história é um exemplo inspirador de como as mulheres podem superar barreiras e ter um impacto positivo em suas comunidades. Além disso, ela também era uma escritora talentosa e uma defensora da cultura local. Seus poemas e crônicas são um testemunho da rica história e tradições da região.

Por tudo isso, a história de Maria Hígina é um testemunho do espírito empreendedor e da resiliência das mulheres da região amazônica

Archipo Góes
25 de dezembro de 2023

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5 comentários em “A Saga de Maria Higina em Terras Coarienses”

  1. Morei por décadas no cruzamento final da rua 15 de novembro com a rua Maria Higina, não imaginava quem a era. Agora começo a conhecê-la pelas letras, aliás é o melhor meio para reconhecer alguém. Creio que foi uma mulher com a vontade de muitas outras que não tiveram a mesma projeção. Maria Higina abraçou o que lhe coube e o que pode fazer o fez. Mulher de letras, pois seus artigos mostram que lhe davam vez e voz, por isso tem seu nome figurado como homenagem público-urbana na rua que finaliza na baixa da 15 de novembro, no cruzamento da professor Góes; entretanto, sobe até a esquina onde fica localizada o histórico prédio da Assembléia de Deus, na Cinco de setembro.
    É sempre bom ler um pouco a mais sobre tão venerável mulher, personagem política, cultural e social da cidade de Coari. Dos castanhais, de revólver na cintura aos concursos de beleza , típicos de Coari, as letras dos artigos cheios da atmosfera nostálgica dos ares da Coari antiga.
    Me lancei no tempo e fui respirar dos ares que acabei de ler nesse apanhado da vida dela, que fez parte da vida de tantos outros coariensses.
    Muito obrigado pela postagem Cultura Coariense.

  2. Pingback: História da Catedral de Santana e São Sebastião – Cultura Coariense

  3. Eu já conhecia algumas histórias dela, pois é minha bisa….

    Realmente impressionante como ela estava frente do seu tempo e administrava com “mãos de ferros” o castanhal…

  4. Eu a conheci, era avó de meus primos, nas minhas lembranças de quando era menino, chamávamos de vovó Hygina, nitidamente uma fortaleza de mulher, tão forte , que confesso que pelo olhar de menino sentia um misto de respeito e medo, tinha uma voz forte, altiva…
    Era admirada pela familia, e amigos que com sua chegada, eventos de visitação eram certos!
    Cresci ouvindo histórias sobre ela, pois sempre foi a frente de sua época, onde se fez respeitada como mulher !

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Minha Brisa Rosa

A autora relembra sua infância em Coari e as aventuras com sua bicicleta Brisa rosa, presente de seu pai em 1986. Após passeios noturnos pela cidade, um acidente lhe deixou uma cicatriz e encerrou sua relação com a bicicleta. A história mistura nostalgia e a lembrança de uma época marcada por diversão e pequenos riscos.

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Escadaria

O texto descreve uma viagem nostálgica da autora ao ser transportado de um trânsito parado para memórias de infância nos anos 80 em Coari. O caminho até a escadaria envolvia passar por figuras e locais marcantes da cidade. Ao chegarem ao rio, ela passava horas flutuando e apreciando aquele cenário.

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O projeto “Corpos”, contemplado pelo edital Paulo Gustavo, oferece aulas gratuitas de Dança Contemporânea e Improvisação para jovens e adultos a partir de 11 anos. As oficinas exploram a expressividade corporal, a improvisação e o aprimoramento de técnicas básicas, com direito a certificado ao final do curso e uma demonstração artística para a comunidade.

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A crônica Correcampenses x Garantianos, narra a rivalidade entre os bois-bumbás Corre-Campo e Garantido em Coari, marcada por brigas e um episódio de violência em 1989. A retomada do festival em 1993 e a vitória do Corre-Campo geraram reações distintas. A crônica reflete sobre a polarização social, a cultura popular como identidade local e a importância da tolerância para a harmonia.

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Um dia de Santana em Coari em uma Igreja Ministerial

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O Trio Guadalupe – 1987

O texto narra as memórias da autora sobre sua infância na década de 80, marcada pela paixão por filmes de dança e pela amizade com Sirlene Bezerra Guimarães e Ráifran Silene Souza. Juntas, as três formavam o Trio Guadalupe, um grupo informal que se apresentava em eventos escolares e da comunidade, coreografando e dançando com entusiasmo. O relato destaca a criatividade e a alegria das meninas, que improvisavam figurinos e coreografias, e a importância da amizade que as uniu. Apesar do fim do trio, as memórias das apresentações e da cumplicidade entre as amigas permanecem como um símbolo daquela época especial.

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Os maçaricos do igarapé do Espírito Santo têm nomes

Maçaricos, aves e crianças, brincavam lado a lado no Igarapé do Espírito Santo em Coari–AM. Um local de rica vida natural e brincadeiras, o igarapé variava com as cheias e secas, proporcionando pesca, caça e momentos marcantes como a brincadeira de “maçaricos colossais” na lama. O texto lamenta a perda da inocência e da natureza devido à exploração do gás do Rio Urucu e faz um apelo para proteger as crianças e o meio ambiente.

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