O Novenário de Santana

Santana

Na tela do celular aparece uma mensagem com o “sininho”, um lembrete daqueles canais que curtimos no YouTube. O título era “Convite para o encerramento das festividades de Santana 2021”. Pronto! Bastou ler essa mensagem para minha mente inundar de recordações.

Na minha infância (em Coari, como vocês já sabem! rs) o mês julho começava com os marreteiros se instalando na rua Gilberto Mestrinho. Um amontoado de ripas, lonas, mesas e mercadorias iam sendo ajeitadas ladeira acima.

Os dias passavam e logo se formava um corredor colorido cheio de produtos que não costumávamos ter com frequência na nossa cidade. Os que mais me atraiam eram aquelas bolas coloridas bem grandes, que ficavam penduradas nas barracas. Aquilo realmente era um encanto para meus olhos de criança e muitas vezes eu mudava o caminho da escola só para ver aquele monte de novidade.

Santana

Começava o novenário. No finzinho da tarde era lindo de ver todas aquelas pessoas caminhando pelas ruas. De todos os cantos da cidade, com a melhor roupa e cabelo arrumado, as pessoas andavam em uma única direção: a igreja de Santana. Acho que Seu Marçal e Dona Creuza eram os primeiros a chegar, provavelmente seguidos de Seu Nego e Dona Nila, Seu Roberval e Dona Edith.

Enquanto isso, Dona Ursulina e Dona Clarinha davam os últimos retoques no andor e organizam os papéis com as músicas para o coral. Aos poucos a igreja ia enchendo. Era hora de encontrar aquele conhecido que se sentava ao lado, de ver joelho no chão de quem tinha muito agradecer e os olhos de emoção de quem ainda tinha muito a pedir.

Santana

Do lado de fora, aqueles que não conseguiam um lugar para sentar, podiam ver a movimentação da equipe que se empenhava na organização do arraial. Era preciso arrumar as mesas, as bebidas, cartelas de bingo, as comidas, o som, as rifas. Tudo precisava estar em ordem para dar continuidade aos festejos da padroeira.

Quando a missa acabava o som começava. Na voz do “Sem Fim” todos eram convidados a aproveitar o arraial.

Muito bingo para jogar, guloseimas típicas para provar, amigos para encontrar.

Tinha uma mesa cheia da “grande e gorda galinha assada”. Rodeada de farofa, enfeitada com rodelas de ovo cozido e algumas azeitonas, elas ficavam prontas para serem leiloadas e arrematadas pelo Seu Zito, um dos devotos mais fervorosos de Santana que eu já conheci. (Panificadora Santana, Navio motor Santana, Casa Santana)

O carrossel de cadeirinhas coloridas de macarrão do Seu Pedrinho e da Dona Damásia começava a funcionar e aquele barulho de ventilador gigante logo se misturava as músicas que saiam da boca de ferro.

A quadra toda enfeitada de bandeiras feitas de revistas velhas e coladas com cola feita de goma e a barraca da prisão coberta com folhas de coqueiro, erguida com a típica madeira louro-bosta, completavam todo aquele cenário.

Encontrar os amigos na prisão era uma das melhores coisas do arraial para meninada. Tinha sempre aquele que saia correndo para não ser preso (o Valtemir), o que fugia todas às vezes (o Valtemir de novo!), mas, que acabava voltando (adivinha quem?! rs), pois, o legal mesmo era ficar conversando na prisão. No fim da noite, a coceira por conta das jiquitaias da madeira, era uma certeza sofrida.

Quando eu tinha algum dinheiro para gastar nos marreteiros, eu sempre ia na barraca da “barba do velho” tentar ganhar algum brinquedo legal. Mas, nunca tive muita sorte. Sempre puxava o fio que não me rendia brindes interessantes. Um trauma!! rs. Tinha ainda a pescaria, arremesso de lata e, para nossos olhos infantis, aquilo era um mundo de diversão que seguiria por nove e divertidos dias.

Ao fim do novenário eu sempre ia para igreja ver minha mãe e suas amigas arrumarem o andor de Santana para a procissão. Eu ficava lá olhando aquelas mulheres misturadas entre flores, cola, tesoura e tantos outros materiais. Elas conversavam, cantavam, riam e no fim da tarde lá estava Ela, Santana, toda linda, colorida, florida e adornada de amor e fé… pronta para circular pela cidade acompanhada de seus fiéis e de seus anjinhos.

Santana

A procissão seguia pelas ruas Coari. O andor parecia flutuar em um rio de gente. Velas acesas, terço mão e na voz um único refrão: Santana, rogai por nós!!

Recortes de uma vida que até hoje fazem parte do meu imaginário. Lindas memórias que embalam as histórias da minha infância, contada aos meus filhos e que enchem meu coração de saudade. Viva Santana!! (26/07)

Santana

Manuella Dantas

Autora da crônica “O Novenário de Santana”

Entre águas e sonhos: uma tragédia anunciada – Botos

A Escola

A Praça São Sebastião

A Feira

Deolindo Dantas – 1895

A História do Miss Coari (1940 – 1967)

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4 comentários em “O Novenário de Santana”

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  2. O cenário do interior da catedral de Coari, seja durante as novenas, missas de sétimo dia, casamento, batizados traduzem mais um fio dos traços da cultura católica da história da cidade. Os festejos e arraiais determinam um ponto social marcante a vida dos que seguem a religião católica. O cenário animado de marreteiros e outros agentes que caracterizavam o momento das celebrações são também pertinentes ao clima que a gente sente dentro da catedral, tudo está interligado. Tanto Santana quanto Sebastião. Bingos, leilões, comidas típicas, carrossel, marreteiros, procissão, andor, anjos, lindos ícones que para serem apresentados precisavam das mãos de centenas de memoráveis pessoas para deixar sua contribuição cultural e religiosa. Boas lembranças nas palavras do texto. Muito bom.

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A autora relembra sua infância em Coari e as aventuras com sua bicicleta Brisa rosa, presente de seu pai em 1986. Após passeios noturnos pela cidade, um acidente lhe deixou uma cicatriz e encerrou sua relação com a bicicleta. A história mistura nostalgia e a lembrança de uma época marcada por diversão e pequenos riscos.

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O texto descreve uma viagem nostálgica da autora ao ser transportado de um trânsito parado para memórias de infância nos anos 80 em Coari. O caminho até a escadaria envolvia passar por figuras e locais marcantes da cidade. Ao chegarem ao rio, ela passava horas flutuando e apreciando aquele cenário.

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Um dia de Santana em Coari em uma Igreja Ministerial

O texto narra a vivência da festa da padroeira de Coari, retratando a devoção à Santana, a padroeira da cidade, e a importância da fé para o povo local. A narrativa destaca a movimentação do porto, a participação dos trabalhadores da castanha, a procissão, a missa e o arraial, revelando a religiosidade popular e a cultura local. A história do patrão e dos trabalhadores da castanha ilustra a exploração do trabalho na região, enquanto a presença do bispo e dos padres reforça o papel da Igreja Católica na comunidade. O texto termina com a reflexão sobre a fé, a esperança e a importância da preservação da tradição.

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O texto narra as memórias da autora sobre sua infância na década de 80, marcada pela paixão por filmes de dança e pela amizade com Sirlene Bezerra Guimarães e Ráifran Silene Souza. Juntas, as três formavam o Trio Guadalupe, um grupo informal que se apresentava em eventos escolares e da comunidade, coreografando e dançando com entusiasmo. O relato destaca a criatividade e a alegria das meninas, que improvisavam figurinos e coreografias, e a importância da amizade que as uniu. Apesar do fim do trio, as memórias das apresentações e da cumplicidade entre as amigas permanecem como um símbolo daquela época especial.

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