ALEXANDRE MONTORIL
MANAUS —
Sou a cidade mais bela
Em toda região do Norte
– E você Coari singela
Me dá pena sua sorte
Sou única com meu teatro
E pontes maravilhosas
Tenho ruas asfaltadas
E praças ajardinadas!
COARI —
Você tem pena de mim
Manaus, faceira e vaidosa.
Por me ver tão pobre assim?
Não seja tão cavilosa
Pois você foi como eu sou
Ou talvez ainda pior:
– Está velha e eu sou menina
– Tenho fé na minha sina.
MANAUS —
Sim sou velha – fiz cem anos
Foi erguido um monumento
Mas não sofro os desenganos
Que fazem o seu tormento
Suas ruas estão no mato
E não tem nenhum cinema
E um Trapiche que existiu
– Um prefeito o destruiu
COARI —
Já que fez esse relato
Que negar não se admite
Eu pergunto: foi exato,
Destruído a dinamite
O palácio do governo
Lá no alto da Avenida,
Quando estava em construção.
– Em tempos que longe vão?!
MANAUS —
Sim: onde é o Instituto
(Por sinal) de Educação;
Eu me lembro, botei luto
E chorei de compulsão;
Mas agora, é diferente
Não existe ‘marmelada’:
– Os governos são sensatos
E valem pelos seus atos.
COARI —
Parabéns, Manaus augusta.
(Cada um sabe o que sente)
Você vive à nossa custa
Por isso, anda contente
Nos devolva o nosso imposto
O da nossa produção;
Pois só assim se redime
Você de tão grande crime!
MANAUS —
Tire da mente essa ideia
Não me faça esse juízo
Acuse sim, à Assembleia
Pois ela é responsável
Pelos erros do governo!
– Derrubaram sem critério.
O projeto do Valério!
COARI —
Aceito, só por princípio
Que você tenha razão;
Mas um dia o Município
Terá a sua redenção.
E as cidades do interior
Deste Amazonas, gigante.
Deixarão de ser o caos
E serão outras Manaus!
Manaus – 19/12/1959